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política monetária

“Cavalo-de-pau” da taxa de juros provoca alívio e preocupação

A guinada brusca de quarta-feira foi evento raro: antes dela, em apenas duas vezes a Selic trocou de sentido de uma reunião do Copom para outra. Empresários e trabalhadores comemoraram a decisão: na avaliação deles, a redução da taxa de juros dará uma injeção de ânimo à economia. Por outro lado, oposição e alguns economistas dizem que a instituição abandonou sua independência e colocou em risco o controle da inflação

Decisão levanta dúvida sobre autonomia do BC

Brasília - Ao mesmo tempo em que gerou euforia entre os investidores da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a decisão do Banco Central (BC) de reduzir a taxa básica de juros de 12,5% para 12% desencadeou dúvidas em relação à autonomia da instituição. A possível interferência política da presidente Dilma Rousseff acirrou o duelo entre governo e oposição, além de dividir especialistas. Em meio a sinais de ingerência, há temores de que o precedente possa prejudicar o combate à inflação.

Desde janeiro, o Conselho de Política Monetária (Copom) discutiu a taxa em seis oportunidades. Em todas as cinco reuniões anteriores à da quarta-feira passada houve aumento no índice, que começou o ano em 10,75%. Às vésperas do encontro desta semana, o governo também fez vários movimentos – alguns explícitos e outros nos bastidores – para deixar claro que desejava a redução.

"Indiretas"

Na segunda-feira, a equipe econômica anunciou que aumentaria o superávit primário de 2012 em R$ 10 bilhões. Um dia depois, Dilma declarou em Pernambuco que a medida abriria caminho para a redução de juros no Brasil. A decisão a favor do aperto fiscal foi repassada em primeira mão pela presidente a sindicalistas, que organizaram manifestações pela queda da Selic em frente ao BC.

Na visão de especialistas, é difícil comprovar se a presidente efetivamente avançou o sinal na relação com a instituição. "Foi uma decisão prematura tecnicamente, mas ainda não dá para dizer que foi política", diz o economista da Universidade Federal Fluminense (UFF) Claudio Considera. Na opinião dele, há sinais claros de que a taxa deveria ser mantida em 12,5% porque a inflação deste ano não está totalmente sob controle.

Na mesma linha, o professor de Macroeconomia Ronald Hill­brecht, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que o problema mais grave é que o país não está tão bem preparado para enfrentar a crise internacional como Dilma alega. "O governo perdeu o controle da questão fiscal: arrecada demais, gasta demais. A presidente está tentando comunicar uma mudança, o que o mercado entende como uma intenção, mas que precisa ser comprovada de agora em diante com atitudes", diz. Ontem, os investidores de­­mons­­traram ter assimilado bem a "intenção" do governo e fizeram a Bovespa subir 2,87% – alta provocada, também, pelo fato de que juros mais baixos tornam o mercado acionário mais atraente.

Elogios

Do lado oposto, os economistas Antonio Corrêa de Lacerda (da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e Adriano Henrique Rebelo (da Universidade de São Paulo) elogiam a postura do governo. "O BC tem se demonstrado autônomo em relação ao governo e submisso ao mercado. Chegamos a um momento em que é preciso ouvir a sociedade", defende Rebelo.

Já Lacerda definiu a baixa nos juros como um "marco simbólico". Para ele, Dilma é diferente dos demais presidentes recentes porque conhece a área econômica e tem se esforçado para coordená-la. "Ao contrário de antecessores que só delegavam decisões, ela tem condição de coordenar esse processo e assumir riscos. Parece ter sido isso o que aconteceu, não uma intervenção no BC", argumenta.

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