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Japão

Celular se transforma em arma para prática de comportamentos agressivos

 | Sossella
(Foto: Sossella)

Para muitas crianças japonesas, o telefone celular é uma ferramenta importante para suas vidas sociais. Mas para o estudante do colegial Makoto, esse aparelho virou um instrumento de tortura mental que quase o levou ao suicídio. A internet também facilita esse tipo de ação: 10% dos alunos de colegial do Japão dizem já ter sido ofendidos por e-mails, sites ou blogs.

"Mesmo quando eu parei de ir à escola para ficar em casa, meu telefone continuava tocando por causa das mensagens molestadores", afirmou Makoto, que passou a sofrer de anorexia e raramente saía de seu quarto depois de passar quase meio ano sendo vítima de ciberbullying.

O bullying é um conjunto de comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos que são adotados por um ou mais alunos contra outros colegas, sem motivação evidente. No caso do ciberbullying, essas mesmas ações são realizadas também contra professores via blogs, Orkut, YouTube, outros tipos de sites, mensageiros instantâneos e mensagens de texto escritos no telefone celular.

Como 96% dos estudantes do colegial no Japão têm telefones celulares, afirma a agência de notícias Reuters, esses portáteis são muito usados na hora de os jovens atormentarem seus colegas.

Hoje com 19 anos e trabalhando como cabeleireiro depois de ter se formado no colegial, ele lembra que seus colegas de classe colocaram na internet fotos suas com mensagens que o insultavam. Esse conteúdo era enviado sempre à vítima, com uma mensagem para que Makoto morresse. Ele tentou suicídio duas vezes.

"Quando as pessoas lhe dizem que sua vida não vale a pena, você começa a pensar desse jeito", afirmou a vítima do ciberbullying, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado. "Eu não acreditava mais no ser humano."

Tendência global

O ciberbullying é uma tendência global, mas a sensação de anonimato tem um significado especial no Japão, onde o código cultural defende que as pessoas evitem o confronto direto, afirmou Shaheen Shariff, investigador do Projeto Internacional de Ciberbullying da Universidade McGill, no Canadá.

"É preciso identificar onde o problema está. Os jovens japoneses são muito controlados, ou estão sob muita pressão para terem sucesso nos estudos? Eles têm como expressar seus sentimentos?", questionou Shariff, em entrevista à Reuters.

Para o Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Byllying Escolar (Cemeobes), o uso da tecnologia propicia uma "forma de ataque perversa, que extrapola muito os muros da escola, ganhando dimensões incalculáveis". Em entrevista sobre o assunto, o advogado Renato Opice Blum, especialista em direito digital, defendeu a criação de uma disciplina nas escolas sobre como se portar on-line, incluindo nessas aulas os aspectos legais do uso da web.

Algumas escolas do Japão e pais de alunos passaram a usar filtros de e-mail e também fazer configurações específicas no celular, para proteger os jovens de agressões. No entanto, especialistas são unânimes em afirmar que o problema não pode ser solucionado com o uso de tecnologia. "Filtros de e-mail, por exemplo, são eficazes. Mas o problema não está relacionado à tecnologia, e sim aos humanos", afirmou Motohiro Hasegawa, professor do departamento de informação e cultura da universidade Kinjo Gakuin, no Japão.

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