Os preços elevados dos grãos reforçam o momento positivo para a indústria de fertilizantes no Brasil, mas o setor trabalha com cautela para não repetir a frustração vivida há dois anos, quando um cenário igualmente favorável desapareceu rapidamente em meio à crise financeira global.
"Trabalhamos com um horizonte promissor atrelado aos preços valorizados das commodities, o que traz junto investimentos no pacote tecnológico", disse David Roquetti, diretor executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda).
A consultoria Agronconsult estima que o setor deve encerrar 2010 com vendas de 23,7 milhões de toneladas, aumento de pouco mais de 1 milhão de toneladas sobre o volume comercializado no ano anterior. Até setembro, segundo dados da Anda, as entregas do produto avançaram 4,4 por cento, em comparação a igual período de 2009, totalizando 16,67 milhões de toneladas.
"A recuperação era esperada e só não foi melhor até o momento porque teve a estiagem que atrasou as compras de fertilizantes", afirma Roquetti. A chegada tardia das chuvas no Centro-Oeste provocou o atraso no plantio de verão na região que concentra grandes produtores de soja no País.
Mas Roquetti ressaltou que existe uma precaução sobre a formação de estoques, "porque além do custo de adquirir a matéria-prima, tem o custo financeiro de manter os estoques, que também é alto".
O diretor da Agroconsult, André Pessôa, observa que as relações de troca permaneceram favoráveis aos produtores e contribuíram para o aumento das vendas de fertilizantes no período, impulsionadas pelos ganhos de preço na soja, cana, café e algodão.
De acordo com ele, a recuperação das vendas ao longo deste ano e a alta dos preços ajudou a melhorar as margens do setor de fertilizantes, mas ressalva que as importações ainda estão comedidas, justamente pelo temor de manter alto nível de estoques.
Em 2008, diante da crescente demanda e antecipação de compras de fertilizantes, o setor manteve forte ritmo de importações. A crise iniciada em setembro daquele ano interrompeu o ritmo da comercialização e a indústria encerrou o ano com grande volume de estoques em mãos.
O movimento gerou perdas para grandes empresas do setor, que além de arcar com o custo de carregar estoques, ainda viram as vendas despencarem diante da restrição da oferta de crédito no período.
Neste ano, considerando o volume de entregas até setembro, a Agronconsult estima estoques de passagem entre 3 e 4 milhões de toneladas, contra 6 milhões de toneladas registradas no início de 2009.
"O setor virou o ano (2009) com estoque alto, quando a demanda apontava para baixo. Mas neste ano, é diferente, porque a demanda está aquecendo. Trabalhamos com viés de alta", observa.
Perspectivas
Para 2011, o setor vislumbra um cenário mais positivo, impulsionado pela perspectiva de bom desempenho das culturas da cana, café, algodão e soja, commodities que vem sendo negociadas nas maiores altas em muitos anos. "A rentabilidade das culturas no primeiro semestre é um sinal de mais investimentos em fertilizantes", observou o diretor executivo da Anda.
A expressiva valorização das commodities nestes últimos meses também puxa os preços da matéria-prima. Roquetti lembra que os fertilizantes, com exceção do DAP (fosfato diamônio) nos Estados Unidos, não são cotados em bolsa. "Por isso, qualquer variável que gera impacto nos preços agrícolas reflete nos fertilizantes alguns meses depois", acrescentou.
O diretor executivo da Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (Ama-Brasil), Carlos Eduardo Florence, observa que os preços dos nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, além do potássio (NPK), vêm subindo nos últimos dois meses, acompanhando as commodities. Segundo ele, ainda são valores abaixo dos recordes de 2008, mas refletem o aumento da procura.
Os movimentos de preços no mercado internacional também têm impacto direto nas cotações internas, porque o Brasil importa cerca de 60 por cento da matéria-prima (NPK, formulação básica) para atender a demanda nacional das misturadoras.
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