29 de outubro de 2006. A inflação se mantinha abaixo do centro da meta, a 3,26% nos 12 meses anteriores, o desemprego caia, a um patamar de 9,2%, o crédito ao consumidor registrava um crescimento de 25% ao ano e o candidato Luiz Inácio Lula da Silva era reeleito com 60% dos votos, apesar do escândalo do mensalão ter sido deflagrado um ano antes.
Com números e personagens diferentes, a conjuntura econômica tem sido fundamental para determinar os eleitos nas últimas disputas presidenciais. Em 2014, no entanto, os indicadores são contrastantes: emprego e renda atingem seus melhores índices dos últimos anos, mas o crescimento do país e a inflação deflagram o desgaste do atual modelo econômico. No final das contas, os números conflituosos levaram a disputa deste ano ao desfecho mais acirrado desde a redemocratização.
Diferente das eleições passadas, o cenário econômico deste ano não é tão favorável à chapa da situação. Por um lado, o atual governo conta com o trunfo de registrar a mais baixa taxa de desemprego entre as últimas quatro campanhas, com somente 4,9% dos trabalhadores desocupados, e a manutenção do aumento da renda média do trabalhador.
Por outro lado, o crédito vem ficando mais restrito, a balança comercial apresenta o menor saldo e o crescimento da economia previsto para o ano é praticamente inexistente, a 0,7%. "Definitivamente é o cenário mais adverso que os governos do PT enfrentaram desde que assumiram o poder", avalia o economista da Geral Investimentos Filipe Machado.
Segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Bruno De Conti, a expectativa futura da população com a economia também dificulta qualquer prognóstico.
"Nas eleições passadas, mesmo quando os índices não estavam muito bons, existia uma clara perspectiva de melhora. Hoje, isso é incerto", completa De Conti.
Retrospecto
A reeleição de Lula, em 2006, é um grande exemplo do quão determinante pode ser a conjuntura econômica para as eleições. "Caia um mito da moralidade do PT, mas o avanço da economia era incontestável. Foi uma candidatura praticamente imbatível", lembra o professor da Unicamp.
No processo eleitoral seguinte, mais uma vez alguns índices chamavam a atenção e garantiram a eleição da sucessora de Lula, Dilma Rousseff. Na época, a queda no desemprego a um patamar inédito no país até então, abaixo dos 7%, e o terceiro maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano em todo o mundo, de 7,2%, foram os fiéis da balança. "Suficientes para eleger um poste, como a Dilma era chamada à época", afirma o analista da Geral Investimentos, Filipe Machado.