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Perspectiva

Cenário para investir em ações em 2012 será de incertezas

Se fosse possível definir em uma palavra o cenário mundial para o investimento em ações, em 2012, nove entre dez analistas diriam: incerteza. Que ninguém espere novidades para o Ano Novo: a zona do euro continuará sendo a fonte de preocupação para os mercados. É a Europa que vem determinando a direção - e a volatilidade - dos pregões mundiais, nos últimos meses, e sem a tão necessária integração fiscal entre os membros da União Europeia nada mudará o humor dos investidores, dizem os especialistas. A grande pergunta que eles se fazem é se a crise vai cruzar o Atlântico e contagiar os Estados Unidos, que ensaia uma recuperação econômica depois de chegar ao fundo do poço em 2008.

No outro canto do planeta, é a China que deve ser observada. A "locomotiva econômica" do mundo muda sua liderança política no ano que vem e precisa reestruturar sua economia, que vem desacelerando. Esse será o contexto para quem pretende aplicar seu dinheiro em ações, em 2012, correndo um risco maior em troca de um retorno mais generoso do que a renda fixa. Infelizmente é preciso lembrar: foram estes mesmos ingredientes que fizeram o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, perder 16,3% em 2011.

Quantificar os riscos embutidos em cada um desses fatores é uma tarefa quase impossível para quem tenta decifrar o mercado de renda variável. Hoje, o cenário político e econômico está tão intrincado que tornou-se difícil para a maioria dos especialistas separar cada um deles. Basta um estalo em qualquer canto do planeta para que, em segundos, os investidores melhorem ou piorem seu humor. E há ainda o fator Brasil a ser considerado para quem deseja ir à Bolsa. Em 2012, o governo brasileiro promete manter o crescimento econômico e chegar, se possível em 5% de expansão, melhorando a oferta de crédito e reduzindo juros.

Na avaliação de Pedro Galdi, da Corretora SLW, a Bolsa continuará contaminada pelas notícias da Europa. Ele acredita que o primeiro semestre ainda será marcado por problemas nos mercados, já que as agências de rating devem rebaixar as notas de países importantes. "Haverá muita volatilidade nos pregões. A partir do segundo semestre, poderá ocorrer uma melhora. A economia dos EUA se recupera com mais força, mesmo com desemprego mais alto, e nos países emergentes as economias devem se aquecer mais. Portanto, o ano começa ruim no mercado de ações e deve terminar bem. Num cenário mais pessimista, o Ibovespa pode variar entre 58 mil e 60 mil pontos. Num contexto mais otimista, o íncide pode variar de 70 mil a 75 mil pontos. Ações de empresas ligadas ao consumo e papéis defensivos, de empresas boas pagadoras de dividendos, são recomendadas numa carteira para o primeiro semestre. Na segunda metade do ano, ações de empresas de commodities, como Vale e Petrobras, que têm mais peso no índice, tendem a se recuperar e ter uma boa performance", recomenda Galdi.

Jason Vieira, da Cruzeiro do Sul Corretora, também aposta numa perspectiva melhor para a Bolsa a partir do segundo semestre. Para o pregão, no primeiro semestre, Vieira espera volatilidade e baixo volume financeiro. "Nesse cenário de recuperação, a Bolsa brasileira tende a ser beneficiada, já que algumas ações estão muitos baratas e podem atrair os investidores, especialmente os estrangeiros com o fim da taxação na Bolsa brasileira. A melhoria do cenário também deve estimular nos IPOS (abertura de capital) de empresas brasileiras, que ficaram em compasso de espera por causa da crise. Se tudo isso se confirmar, o Ibovespa poderá se valorizar entre 10% e 15%. Esta não é uma projeção otimista, mas sim realista".

No cenário mais otimista, projetado por Clodoir Vieira, da Corretora Souza Barros, o Ibovespa pode chegar a dezembro do ano que vem com uma valorização de até 27%. Para um cenário conservador, o especialista estima uma alta de 22% do índice. "Devem se destacar as ações de empresas ligadas ao varejo, consumo e do setor financeiro. Com medidas do governo de estímulo à economia, o consumo deve se aquecer novamente. Com relação ao setor bancário, mesmo com o cenário externo afetando os bancos, aqui não deve haver reflexo. As ações de bancos estão muito descontadas e oferecem boas oportunidades de ganhos. Outro setor que deve ser observado de perto é o da construção civil. O governo deve anunciar novas medidas de estímulo à construção e os papéis apresentaram queda de 23% (até dia 22 de dezembro). Ações de empresas exportadoras devem continuar com baixa performance", afirma.

Will Landers, gestor de portfólio para a América Latina da gestora de fundos americana BlackRock, acredita numa solução para a Europa e na volta dos investidores aos mercados emergentes, especialmente o Brasil, que deve se beneficiar desse capital. Como Clodovir, da Souza Barros, Landers também aposta nos bancos como destaque na Bolsa brasileira em 2012. "Ações do Itaú Unibanco terão a maior posição em nosso portfólio, e Bradesco também segue em destaque. Acredito que não haverá grandes quebras no sistema bancário europeu. O setor imobiliário é outro que está na mira em 2012. As ações estão baratas e, com queda de juro, as construtoras devem se beneficiar. A Vale também está na nossa carteira, e segue com geração de caixa elevada. Não vemos baixa no preço do minério de ferro. A Vale é uma aposta que combina ganho de valor, crescimento e lucro. Ambev também está entre as dez maiores posições no nosso portfólio, assim como OGX. Não temos posições em papéis de aço e papel e celulose".

Já Lika Takahashi, da Fator Corretora, recomenda papéis de empresas com as seguintes características: não-cíclicas, demanda com alto grau de inelasticidade, baixo custo fixo e não intensivas de capital de giro. Lika recomenda ainda ações de companhias que possuem balanços de qualidade, com baixo endividamento e ações com dividend yield (rentabilidade do dividendo) elevado, que não são muitas, mas se tornam mais atraentes à medida que a taxa de juro cai. "O setor de telecomunicações tem perspectivas positivas, com expansão de telefonia móvel e banda larga de internet. O aumento da utilização de cartões e o desenvolvimento do setor financeiro favorecem os papéis de empresas de serviços financeiros. Os fundamentos do setor bancário também permanecem positivos. OHL e ALL são dois papéis interessantes no setor de logística. OHL tem alta previsibilidade de fluxo de caixa e ALL deve concluir investimentos no Mato Grosso permitindo à empresa se desalavancar e ser negociada a múltiplos mais atraentes. Ambev terá resultados beneficiados pelo volume crescente de venda de cerveja. Ações da Raia Drogasil podem se valorizar se a empresa unificar processos de compras e reduzir despesas, além de otimizar estrutura corporativa. Resultados de Mahle Metal Leve e Marcopolo continuam com perspectivas atraentes. Com a realização da Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil, papéis da Localiza são excelente opção de investimento".

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