As centrais sindicais definiram ontem, durante encontro em São Paulo, que vão reagir às demissões com uma onda de paralisações nas empresas de todo o país. Participaram da reunião, organizada pela Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Força Sindical, Nova Central, União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). Faltou a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que ficou de fora da discussão porque terá na segunda-feira um encontro com todas as suas centrais estaduais e maiores sindicatos.
"Não podemos ficar assistindo às demissões. O próprio governo já percebeu que a marolinha vai ser uma onda grande de demissões. Será preciso uma injeção de dinheiro para evitar esses cortes", avaliou Wagner Gomes, presidente da CTB. Uma das surpresas do encontro foi o anúncio do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, de que só voltará a negociar com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) daqui a 10 dias. Ele era voz isolada entre as centrais ao concordar com o presidente da federação, Paulo Skaf, sobre a possibilidade de reduzir salários e a jornada de trabalho. Por ora Silva preferiu se unir às outras centrais, que assinaram uma proposta para começar uma negociação governamental nas esferas federal, estadual e municipal. Ontem mesmo já começaram as costuras para que ocorram reuniões com os ministros Carlos Lupi, do Trabalho, Guido Mantega, da Fazenda, e com o presidente Lula.
Skaf, agora apoiado apenas por um grupo de grandes empresários e parte dos sindicatos patronais , disse não se sentir isolado com a decisão. "Achei ótima a ideia do Paulinho de adiar o encontro. Semana que vem será o momento de unirmos forças pela redução da Selic e do spread bancário".
GM
Antes da decisão das centrais as paralisações já vinham ocorrendo. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP), onde a General Motors desligou 802 funcionários temporários, conseguiu parar a produção por dois dias, num total de quatro horas. Ontem participaram da manifestação cerca de 5 mil trabalhadores. "A adesão foi maior do que no primeiro dia. É o medo de também ser demitido que motiva a participação", diz Vivaldo Moreira Araújo, diretor do sindicato.
Hoje à tarde ocorrerá uma manifestação na porta da fábrica de autopeças Magneti Marelli Cofap, em Santo André (SP). O objetivo é protestar contra o corte de 480 operários, anunciado ontem. Para evitar demissões, e conseqüentes paralisações, a siderúrgica ArcelorMittal Aços Longos (ex-Belgo Mineira) firmou um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem para a suspensão temporária dos contratos de trabalho dos 1,3 mil empregados da subsidiária Belgo Bekaert, maior produtora de arames das Américas. Numa medida similar à adotada pela Renault, em São José dos Pinhais (PR), a empresa assegurou a manutenção dos empregos por 90 dias após a suspensão.
O problema é que o fantasma das grandes demissões não perdeu força, mesmo com a ameça de paralisações. Além da Magneti Marelli, cerca de 150 temporários da fábrica da Volkswagen em Taubaté (SP) serão dispensados. Também a rede de varejo carioca Casa&Video anunciou que vai demitir 3 mil funcionários em todo o país, o equivalente a metade de seus empregados diretos.
Quase 1,5 mil funcionários da Iveco, fabricante de caminhões do grupo Fiat, terão mais 15 dias de descanso em casa depois de um período de 30 dias de férias coletivas. A volta ao trabalho estava prevista para terça-feira, mas foi adiada. A direção da montadora, instalada em Sete Lagoas (MG), informou que a medida é uma forma de evitar demissões por causa da retração da demanda.
FGTS
O esperado aumento brusco nos indicadores de desemprego pode ser sentido nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, Wellington Moreira Franco, disse que "o número de saques foi alto, acima da média", no último mês de 2008, ante igual mês do ano anterior. Segundo ele, os saques do FGTS em dezembro somaram R$ 5,2 bilhões, valor 62% superior aos saques de dezembro de 2007, que somaram R$ 3,2 bilhões.
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