Cerca de 600 manifestantes, entre trabalhadores e sindicalistas ligados a dez categorias profissionais, participaram de protesto hoje em frente à sede do Banco Central em São Paulo -na av. Paulista, região central da cidade- contra uma possível alta na taxa básica de juros, a Selic, a ser decidida hoje pelo Banco Central. De acordo com centrais sindicais envolvidas no protesto, a manifestação durou cerca de duas horas.
Participaram do ato representantes da Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central ligados a sindicatos de metalúrgicos, químicos, bancários, comerciários, costureiras e trabalhadores dos ramo de alimentação, refeições coletivas e do setor têxtil.
"A alta nos juros significa um retrocesso de dez anos. Mandamos um recado para a presidente Dilma: a crise se enfrenta com investimento e baixando os juros", disse Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SP e vice-presidente da Força Sindical.
Para o secretário-geral da entidade, João Carlos Gonçalves, o governo está sob "fogo cruzado" e pressão do setor "rentista" -aqueles que se beneficiam de juros altos para manter a rentabilidade de seus negócios.
"Escolheram um vilão, o tomate, e estão o usando para aumentar a taxa de juros, e justificar a redução da inflação", disse. Durante o ato, as centrais assaram sardinhas e tomates. "A sardinha para protestar contra os tubarões do governo e dos empresários. E o tomate porque se transformou em vilão da inflação" -foi o slogan do protesto, que também ocorreu em Salvador (BA).
CorrentesCanindé Pegado, secretário-geral da UGT, informou, no site da entidade, que há duas correntes no governo federal.
"Uma, chamada de monetarista, quer controlar a inflação por meio de juros altos. Outra, defendida pelas centrais, é a corrente desenvolvimentista", com enfoque no crescimento do PIB, na geração de empregos e renda e melhoria de condições de vida da população.
"Não podemos ficar indiferentes. Se os juros aumentarem haverá uma recessão, porque com o aumento dos preços, a população consumirá menos. Juro alto nunca foi remédio para conter a inflação em nenhum país do mundo. Nossa prioridade é o crescimento do PIB que gera melhoria na condição de vida", informou Pegado.
A CTB, central que também participou do protesto, informou que, além de alertar a população para o que está em jogo, a manifestação serviu para demostrar a insatisfação dos trabalhadores com os rumos da política econômica do país.
"Queremos acabar com a especulação, que atrasa nosso país e prejudica a classe trabalhadora. Queremos mostrar isso para a população que não compreendeu esse tipo de protesto que fazemos hoje. Mostrar que, se os juros aumentarem, podem ocorrer demissões e, por consequência, aumento do desemprego. Esse é um processo de esclarecimento", disse Wagner Rodrigues, secretário-geral da CTB São Paulo e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, no site da entidade.
Hoje, durante a divulgação da geração de 112.450 novos postos com carteira assinada em março, o ministro Manoel Dias (Trabalho) afirmou que uma possível alta nos juros "não vai alterar a geração de emprego, porque a economia não vai parar em função disso".