A Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), autarquia ligada ao Ministério da Integração Nacional, vai usar R$ 1,4 bilhão para financiar a construção de uma fábrica de trilhos na região. O recurso virá do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste previsto na MP 581, já aprovado na Câmara e no Senado. O dinheiro do fundo já está previsto no Orçamento da União, ainda não votado no Congresso. A superintendência já administra um fundo constitucional para a região com R$ 17 bilhões em caixa. Segundo Marcelo Dourado, superintendente da Sudeco, pelo menos três empresas estrangeiras estariam interessadas em montar uma unidade siderúrgica na região para a produção de trilho.
O plano é ter uma siderúrgica com laminador para a produção de pelo menos 200 mil toneladas de trilho por ano, diz Dourado. O minério necessário à produção viria das jazidas de ferro existentes hoje na região de Corumbá (MS), próximo à divisa com a Bolívia.
A iniciativa se soma a outro plano, tocado pela Secretaria de Desenvolvimento da Produção do (Mdic) Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O governo tem pressionado o setor siderúrgico brasileiro a retomar a produção de trilhos, paralisada pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em 1996, em razão da falta de demanda.
A Folha de S.Paulo apurou que o governo tem pressionado o Grupo Gerdau. A empresa admite estudos para a produção de trilhos, mas afirma que ainda não se decidiu sobre o assunto. O governo Dilma tem insistido no comitê de metalurgia do Plano Brasil Maior -programa que forma a essência da política industrial do governo- a existência de uma nova realidade no país, com demanda garantida nos próximos anos.
As novas 12 concessões ferroviárias, prometidas pelo governo, criam uma demanda para pelo menos 1,2 milhão de toneladas de trilhos no país. O setor siderúrgico afirma que uma demanda entre 400 mil e 500 mil toneladas por ano já daria sustentação econômica para o negócio.
Importados
A Folha de S.Paulo fez um levantamento junto ao (Mdic) e constatou que a demanda de trilho importado nos dois últimos anos tem sido menor do que isso, entre 160 mil a 170 mil toneladas nos últimos dois anos. A previsão do plano de expansão ferroviário é a construção de 10 mil quilômetros de ferrovias nos próximos anos, um projeto que, se concluído, envolverá investimentos de R$ 91 bilhões.Para Dourado, da Sudeco, o investimento numa nova fábrica de trilho no país é essencial para a mudança na matriz de transportes, o que não envolve apenas carga, mas também passageiros. "A ferrovia é a solução para as cidades brasileiras, não há outra opção. A solução não é o pneu, tanto para o transporte de passageiros quando para o transporte de carga", diz Dourado.
Projetos
A superintendência do Centro-Oeste tem dois projetos para a construção de ferrovias para a operação de trens de carga e de passageiros no Planalto Central.
O primeiro é a construção de uma linha de 200 quilômetros entre Brasília e Goiânia, passando pela cidade de Anápolis, onde cruza a Ferrovia Norte-Sul. O projeto prevê o uso da estrada de ferro por operadores de transporte de carga e de passageiros.
Outra ideia, apontada pela Sudeco, é uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilho) para passageiros entre Brasília e Luziânia, margeando a BR-040, num trecho de 70 quilômetros.
Os dois projetos estão em fase de licitação para a contratação do estudo de viabilidade econômica, técnica e ambiental.
Piloto
A minuta de contrato da concessão do trecho entre Açailândia (MA) e Vila do Conde (PA) incluiu a exigência para a compra de trilhos no Brasil. O contrato prevê que o concessionário deve desembolsar 75% do valor gasto com trilhos em compras nacionais na fase de construção da ferrovia e de 50% no período da operação. A empresa fica desobrigada a cumprir essa regra se o custo do trilho no país for 35% maior do que o preço internacional.