Na noite de terça-feira (28), o CEO da Uber, Travis Kalanick, mandou a cada um de seus funcionários – cerca de 11 mil pessoas – mais um pedido de desculpas. Foi em reação a um vídeo de seis minutos, obtido e publicado na tarde de terça-feira pela Bloomberg, mostrando Kalanick em uma discussão acalorada com um de seus motoristas.
A conversa começou amigavelmente com Kalanick e o motorista Fawzi Kamel apertando as mãos. Kamel perguntou sobre tarifas reduzidas “em geral” em várias ofertas feitas pela Uber. Kalanick explicou que ele baixou as tarifas para permanecer competitivo contra outras empresas, como a Lyft.
ASSISTA Ao vídeo em que o CEO da Uber discute com motorista (em inglês)
“Nós não fomos para os preços baixos porque queríamos”, disse Kalanick, referindo-se à adição de serviços como Uber Pool ao Uber Black original. “Nós fomos porque fomos obrigados.”
“Poderíamos ir mais alto e mais caro”, Kamel respondeu. O motorista continuou, levantando o dedo para Kalanick e dizendo-lhe que ninguém mais confia nele. “Eu perdi US$ 97 mil por sua causa. Eu estou falido por sua causa. Está mudando todos os dias”, disse ele, acrescentando: “Você mudou todo o negócio”.
“Besteira”, disse Kalanick sobre os gritos de Kamel. “Algumas pessoas não gostam de assumir a responsabilidade pela sua própria mer**, e culpam tudo em sua vida a todos os outros.” Ele saiu do carro, dizendo “boa sorte”. “Boa sorte para você também”, disse Kamel, acrescentando que Kalanick não “vai longe”.
O pedido de desculpas de Kalanick, também publicado no site da Uber, começou assim: “Tenho certeza de que você viu o vídeo onde eu tratava um motorista Uber desrespeitosamente. Dizer que estou envergonhado é pouco”.
A linguagem fica cada vez mais melancólica, afirmando que o incidente “não pode ser explicado”. “É claro que este vídeo é um reflexo de mim – e as críticas que recebemos são um amplo lembrete de que devo fundamentalmente mudar como líder e crescer. Esta é a primeira vez que eu tenho vontade de admitir que preciso de ajuda de liderança e pretendo obtê-la. “
O texto termina com Kalanick pedindo desculpas a Fawzi e à “comunidade de motoristas e clientes” como um todo. Essa linguagem sugere que o pedido de desculpas foi inspirado por mais do que o vídeo. Os últimos meses não foram bons com a empresa.
O maior golpe veio sob a forma de uma hashtag. Depois que o presidente Donald Trump emitiu uma proibição de entrada a cidadão de sete países predominantemente muçulmanos, a New York Taxi Workers Alliance organizou uma greve no Aeroporto Internacional John F. Kennedy. Cerca de 30 minutos depois de o movimento ter começado, a Uber avisou que estava aumentando os preços no JFK.
Rapidamente, #DeleteUber ganhou força no Twitter. Com isso, cerca de 200 mil pessoas teriam apagado o aplicativo em janeiro. Ação não muito difícil quando seu maior concorrente Lyft está disponível na maioria das grandes cidades americanas. No Brasil, a competição é maior com a Cabify, que está entrando em cidades como Brasília e Curitiba, e a 99, que recebeu aporte de uma empresa chinesa.
Não ajudou em nada o fato de, em dezembro, Kalanick ter se juntado ao conselho consultivo econômico de Trump. Finalmente, após a campanha de mídia social para boicotar sua empresa, Kalanick saiu do conselho. Em um memorando, ele escreveu, “juntar-se ao grupo não era para ser um endosso do presidente ou sua agenda, mas infelizmente foi mal interpretado para ser exatamente isso”.
Semanas mais tarde, a companhia encontrou-se outra vez em um incidente infeliz quando uma ex-funcionária, Susan Fowler Rigetti, escreveu que há assédio sexual sistemático e discriminação contra mulheres na Uber.
Kalanick tuitou em resposta: “O que é descrito aqui é abominável e contra tudo em que acreditamos. Qualquer pessoa que se comporte dessa maneira ou pense que isso está OK será demitido.” Ele acrescentou que “não há absolutamente nenhum lugar para esse tipo de comportamento na Uber”.
Ele também contratou o ex-Procurador Geral dos Estados Unidos, Eric Holder, para liderar uma investigação sobre essas alegações, com a participação da fundadora do Huffington Post e diretora da Uber, Arianna Huffington, e da chefe de recursos humanos da empresa, Liane Hornsey.
Em outro episódio, a empresa teve problemas contínuos com carros autônomos. Em dezembro, a Uber foi forçada a retirar uma frota de carros de São Francisco, apenas uma semana após o início da operação. O Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia considerou o serviço ilegal porque a Uber não tinha a licença necessária para veículos autônomos.
Na mesma semana, um de seus carros autônomos furou um sinal vermelho e foi capturado em vídeo. A empresa originalmente alegou que isso aconteceu como resultado de erro humano. Mais tarde, documentos internos obtidos pelo New York Times mostraram que o problema era um erro na programação do carro. Um documento.
Para agravar a situação, uma ação foi movida em um tribunal de São Francisco contra a empresa na semana passada. A alegação é a de que a Uber roubou uma tecnologia a laser do Google - chamada LiDAR - para construir sua frota de carros autônomos.
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