Chope tirado direto do tanque na fábrica da Heineken, em Ponta Grossa (PR): unidade é a maior fábrica de cervejas da empresa no país.| Foto: Raphaela Ribas/Gazeta do Povo
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A Heineken abriu as portas de sua maior fábrica no Brasil, em Ponta Grossa (PR), para que o público possa conhecer o processo de fabricação da cerveja. Dos grãos de malte até o chope saindo direto de uma torneira ligada ao tanque, o tour cervejeiro que explica as etapas de produção da Heineken e suas outras marcas, como Amstel e Sol, é também uma experiência sensorial.

Os grandes tanques cilíndricos de fermentação nos pátios atraem o olhar. São dois modelos: os horizontais, usados apenas para maturar a linha Heineken, e os verticais. Estes somam 42 na fábrica paranaense e são voltados para as outras marcas. Cada um dos tanques verticais tem capacidade de cerca de 160 mil litros – segundo eles, o equivalente a um copo de cerveja por dia ao longo de uns mil anos.

A equipe da Heineken não dá detalhes sobre o porquê dos tanques horizontais. Não revela nem mesmo a quantidade ou a capacidade deles. É segredo industrial, dizem, assim como o tipo de levedura usada no processo: uma receita do fundador holandês usada há mais de um século. A explicação genérica é que nessa posição há mais espaço para o gás carbônico circular, o que melhora a pressão na levedura durante a fermentação.

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No interior da fábrica outros sentidos são aguçados pelo alto barulho das máquinas, os diferentes odores de cada etapa e, por fim, os sabores da degustação.

Os tanques horizontais são usados para armazenar a cerveja da marca Heineken.| Foto: Raphaela Ribas/Gazeta do Povo
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Dos grãos de malte e lúpulo ao envase e pasteurização

O processo para fazer cerveja se tornou mais conhecido nos últimos anos, à medida que as bebidas artesanais cresceram e atraíram interessados em fazer a sua própria "gelada". Mas o sistema de uma grande cervejaria gera curiosidade pela sua capacidade de produção. No caso da Heineken são nove etapas: mosturação, fervura, decantação, resfriamento, fermentação, maturação, filtração, envase e pasteurização.

A cerveja da marca holandesa é feita com água, lúpulo (que dá o amargor, aroma e é um conservante natural) e malte de cevada (grãos do cereal germinados sob controle).

A primeira etapa consiste na moagem do malte triturado com água em alta temperatura para formar o "mosto", um líquido doce. O tempo do processo e a temperatura do mosto variam conforme o estilo da cerveja em produção. O aroma forte e amargo do malte lembram o de um chope recém-saído da torneira.

Em seguida, o mosto é fervido. Uma etapa cujo cheiro remete ao desconforto de quando já se bebeu demais, tanto pelo som ainda mais intenso das máquinas em operação como pelo odor enjoativo – parecido com o que uma mesa de bar exala no fim do dia, ou o cheiro da rua após a passagem de um bloco de carnaval.

É a fervura que causa este odor. O mosto vai para a tina de fervura, onde o lúpulo é adicionado em dois momentos: no início, para dar o amargor necessário, e no fim, para adicionar aroma. A fervura do mosto também é importante para concentrá-lo e esterilizá-lo, além de evaporar compostos indesejáveis.

Os passos seguintes são a decantação de resíduos sólidos ainda existentes, como os de lúpulo e outras substâncias, e o resfriamento. Como o mosto chega à decantação em alta temperatura, é necessário esfriá-lo em um sistema específico de troca de calor com água gelada. Essa temperatura varia de acordo com o tipo de cerveja. 

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Tanques onde o mosto (mistura de malte e água) é formado na fábrica da Heineken, em Ponta Grossa (PR).| Foto: Raphaela Ribas/Gazeta do Povo

Uma vez que a temperatura ideal foi atingida, começa a fermentação. É neste momento que a levedura é adicionada. Ela transforma os açúcares do mosto em álcool, gás carbônico e outros subprodutos que proporcionam aromas à cerveja. O tempo médio de fermentação e maturação das cervejas é de 14 dias. O da Heineken é bem mais longo: 28 dias.

Maturação em temperatura quase zero para afinar sabor

A cervejaria em Ponta Grossa é a única da Heineken no Brasil que produz o barril de chope da marca, a garrafa long neck retornável e as opções sem álcool Heineken zero e Sol zero – esta última ainda a ser lançada até o fim do ano.

A fábrica paranaense passou recentemente por uma expansão que aumentou em 150% sua capacidade de produção. O investimento foi superior a R$ 1,5 bilhão e as obras foram concluídas neste ano. A aposta não é por acaso. O Brasil é o país que mais consome Heineken no mundo, segundo o diretor da fábrica, Reinaldo Franco. Além disso, o público de zero álcool também vem aumentando.

Das 15 fábricas que a Heineken tem no Brasil, três funcionam a partir de energia de biomassa, solar e eólica: a de Ponta Grossa, a Alagoinhas (BA), a de Araraquara (SP).

Além de fermentar, a cerveja precisa maturar em temperatura próxima de zero grau para que a levedura transforme a maior parte dos açucares e os aromas e sabores sejam afinados. Esse processo pode levar dias e até meses, dependendo do estilo desejado. O líquido passa também por filtração para eliminar resíduos que possam ter ficado na fermentação e maturação, principalmente de levedura.

Diagrama mostra as etapas de produção da cerveja na fábrica da Heineken em Ponta Grossa (PR).| Foto: Raphaela Ribas/Gazeta do Povo
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Profissão: degustador de cerveja

Para quem gosta de cerveja, parece a profissão dos sonhos: ser pago para beber. Mas não é tão simples, conforme explica Rosângela Machado, degustadora da Heineken há quatro anos.

É preciso ter o paladar apurado para identificar inconstâncias no sabor. Em outras palavras, o trabalho do degustador é encontrar problemas. "Fazemos um treinamento em que somos treinados para identificar defeitos. Na Heineken, são 22 [possíveis defeitos que devem serem verificados]".

Uma vez aprovada, a cerveja é envasada. Do outro lado da fábrica, é possível acompanhar a sincronia das centenas de garrafas verdinhas entre esteiras onde são limpas, preenchidas e depois organizadas em caixas e engradados.

Depois de envasadas, as cervejas são pasteurizadas por choque térmico, para aumentar a sua validade de 60 dias para 9 meses. Esse processo só ocorre nas garrafas e latas. O chope, que vai em barris, não é pasteurizado.

Depois, latas, garrafas e barris de chope são embalados em caixas e engradados e abastecem dezenas de caminhões que ficam a postos para distribuir a bebida.