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Petrobrás

Chamas na Amazônia. E não é queimada

Coari (AM) – Duas grandes chamas no meio da mata atraem a atenção de quem sobrevoa à noite a região do Rio Urucu, no coração da selva amazônica. Durante o dia, é mais fácil notar que não se trata de mais alguns daqueles focos de incêndio e desmatamento que a televisão denuncia de tempos em tempos. Ali, 650 quilômetros a sudoeste de Manaus, o fogo que se vê no alto de duas tochas é o resultado da queima do excedente de gás produzido na Província Petrolífera de Urucu, complexo industrial de 350 quilômetros quadrados – algo como 45 campos de futebol – localizado na Bacia do Rio Solimões, quase no centro geográfico do estado do Amazonas. Cercada por um compacto paredão de árvores com pelo menos 10 metros de altura e distante mais de 200 quilômetros da cidade mais próxima, a província é o maior símbolo de um acontecimento histórico que completa 20 anos em 2006: a descoberta de reservatórios comerciais de petróleo na Amazônia.

Se não confirmou as antigas especulações sobre a existência de uma gigantesca jazida de "ouro negro" escondida sob o solo da floresta, essa descoberta serviu ao menos para aliviar boa parte das necessidades de abastecimento dos estados do Norte do país, que ainda sofrem com isolamento geográfico. A produção de Urucu, que equivale a 3% do total nacional, atende hoje a 50% do mercado de derivados de petróleo da região, e até 2009 esse índice deverá chegar a 80%, após as adaptações previstas para a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus.

Entretanto, outro importante desafio, levar até a capital do Amazonas o farto gás natural produzido no meio da selva, não tem data para ser vencido. Os obstáculos políticos e burocráticos são tais que, uma vez ultrapassados, parecerá fácil construir um gasoduto que atravesse 735 quilômetros de floresta – e que finalmente coloque um ponto final no caos energético da cidade, hoje inteiramente dependente de usinas termelétricas movidas a óleo combustível, muito mais caro e poluente. Enquanto isso não acontece, 6,5 milhões de metros cúbicos de gás natural que emergem com o petróleo, ou quase 70% da produção diária, continuarão sendo reinjetados todos os dias nos reservatórios de Urucu. Os 30% restantes são aproveitados na própria base, para gerar toda a energia que ela consome.

O petróleo e o GLP não sofrem do mal do isolamento. Por meio de dutos de 285 quilômetros, chegam até o terminal de Coari, onde são embarcados em navios petroleiros que sobem o Rio Solimões até chegar à Reman, instalada às margens do Rio Negro, em Manaus. Diariamente, a província petrolífera produz o equivalente a 115 mil botijões de gás de cozinha, o suficiente para atender ao Amazonas. No caso do petróleo, o volume extraído diariamente dos três campos de Urucu saltou dos 3,5 mil barris iniciais, em 1988, até quase 60 mil barris, em 2004. Mas a produção já chegou à fase declinante: no ano passado, a média diária ficou em 56,5 mil barris, volume que deve recuar para menos de 45 mil barris em 2010.

"Teremos pelo menos mais 20 anos de produção", estima José Maria Cardoso Costa, gerente da base de Urucu. "Mas isso se a Petrobrás não fizesse mais nenhum investimento aqui. Uma medida possível é pressurizar o reservatório, forçando a saída do petróleo que não jorrar naturalmente." Costa acrescenta que as pesquisas na Amazônia não param, e que novas descobertas podem ser anunciadas a qualquer momento. Afinal, a Petrobrás quer fazer valer o investimento já feito na região, que passa de US$ 8 bilhões e que não será recuperado somente com a produção de Urucu – cujas despesas foram de mais de US$ 500 milhões. Se a companhia continua apostando ali, é porque acredita que um dia terá um retorno à altura.

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