A chance de descumprimento da meta de inflação em 2016 cresceu e já supera os 90%. Por outro lado, o Banco Central (BC) calcula que a probabilidade de descumprimento da meta em 2017 caiu para apenas 12% no cenário de referência. As informações constam do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta terça-feira (27) pelo órgão.
No cenário de referência – que leva em conta a manutenção do câmbio e juros –, a chance de estouro do teto da meta em 2016 subiu de 69% para 91%. Já no caso de 2017, a possibilidade de estouro da meta de inflação pelo BC caiu de 18% para 12%. O documento trouxe, ainda, a menção à probabilidade de 6% de estouro do teto da meta em 2018.
No cenário de mercado – que leva em conta as previsões de mercado para câmbio e juros –, a chance de estouro do teto da meta em 2016 aumentou de 72% para 92%, enquanto a de 2017 foi reduzida de 35% para 21%. O documento trouxe pela primeira vez a probabilidade de estouro da meta em 2018, em torno de 16%
Estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação até 2018 é de 4,5%. Para 2016, há uma banda de tolerância de 2 pontos porcentuais, enquanto para 2017 e 2018 a margem é de 1,5 ponto porcentual.
Ao entregar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2016 em 10,67%, o BC não cumpriu sua meta e o então presidente da instituição, Alexandre Tombini, teve de escrever uma carta aberta ao então ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
Horizonte relevante
Em um trecho do RTI, o Banco Central fez questão de lembrar que seu horizonte relevante considerado “abrange os anos-calendário com metas já definidas pelo CMN, inclusive o ano de 2017, para o qual o Comitê persegue a convergência para a meta de 4,5%”.
De acordo com a instituição, este horizonte relevante das ações de política monetária “não é estático”, mas se desloca com o passar do tempo. “À medida que avançam os meses, as ações de política monetária passam a dar maior importância, de maneira gradual, para períodos igualmente à frente”, ressaltou o BC.
Incertezas
O Banco Central reconheceu que há incertezas se a desaceleração recente observada em alguns preços de serviços representaria desinflação capaz de se disseminar nesse setor e pelos demais preços da economia. A evolução do setor de serviços é uma das três condicionantes que o BC estabeleceu para reduzir as taxas de juros.
Em boxe sobre estudo da inflação de serviços, incluído no RTI, o BC destacou que o movimento de desaceleração da preços nesse setor foi interrompido em julho e agosto, quando acelerou para 7,40%.
Entre novembro de 2015 e junho de 2016, a inflação de serviços havia recuado de 8,34% para 7,02%. No boxe, o BC faz questão de ressaltar que “nenhuma medida isolada” substitui o IPCA-Serviços como medida de inflação. “Representando tão somente informações adicionais ao processo de acompanhamento dos preços do setor”, sinaliza o BC.
A autoridade monetária destaca ainda que quatro grupos de preços podem dificultar a identificação da tendência inflacionária recente do setor: turismo, serviços domésticos, cursos e comunicação. A eliminação desses quatro grupos de preços, cujo peso representa 36,4% da inflação de serviços do IPCA, resulta em indicador de inflação subjacente no setor de serviços, que mostra desaceleração mais pronunciada no período recente.
O BC avaliou que, desde 2007, esse mesmo indicador apresentou, em média, inflação mais alta que a do setor de serviços como um todo. Essas evidências, segundo o BC, geram incertezas sobre se a intensificação recente da desinflação desse indicador representa uma tendência que deverá se disseminar para os demais preços do setor e da economia ou se decorre de ajuste de preços relativos, após acúmulo de diferenças importantes nos últimos anos.
Preços dos alimentos
O Banco Central voltou a citar no RTI os riscos domésticos para seu cenário básico de inflação, que foram levados em conta na decisão de agosto do Copom. Destacou que “a inflação acima do esperado no curto prazo, em boa medida decorrente de preços de alimentos, poderia se mostrar persistente”.
Além disso, o BC citou que permaneciam as incertezas quanto à “aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia”. Por fim, a instituição lembrou que “um período prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta poderia reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação”.
Ao mesmo tempo, o RTI lembrou que o Copom de agosto destacou que os preços no atacado já mostravam arrefecimento e que há evidências de que a queda dos alimentos no atacado tem se transmitido ao varejo. O BC destacou ainda que “os ajustes na economia poderiam ser implementados de forma mais célere, o que permitiria ganhos de confiança e reduziria as expectativas de inflação”.
Por fim, a instituição disse que “o nível de ociosidade na economia poderia produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do Copom.” No documento, o BC informou ainda que estará atento a sinais de que a resistência da inflação possa vir de mecanismos inerciais.
Focus
O Banco Central destacou que as expectativas de inflação apuradas no Relatório de Mercado Focus encontram-se, no caso de 2017, acima da meta para o ano, que é de 4,5%. O BC cita uma taxa de 5,1% prevista pelo mercado no Focus.
De fato, no relatório Focus imediatamente anterior ao RTI, a mediana das previsões do mercado para a inflação em 2017 estava em 5,12%. No último Focus, divulgado ontem, já estava em 5,07%.
Ainda em referência ao Focus, o BC citou que as “expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus encontram-se na meta de 4,5% para 2018 e 2019”.
No relatório, a instituição afirma ainda que o cenário básico do Copom contempla “estabilização da atividade econômica no curto prazo e possível retomada gradual ao longo dos próximos trimestres”. Ao mesmo tempo, o BC cita que o “nível de ociosidade na economia permanece elevado”. “As projeções produzidas pelo Copom indicam que esse processo deve continuar nos próximos anos. No entanto, a velocidade de desinflação permanece incerta”, acrescentou o BC.
Câmbio
O Banco Central informou que as estimativas apresentadas no RTI levaram em conta um câmbio de R$ 3,30 no cenário de referência. Todas as estimativas e avaliações do documento levam em conta a data de corte do dia 22 de setembro.
A cotação do câmbio mencionada é maior que a de R$ 3,20 da mais recente ata do Copom, divulgada em 6 de setembro. No RTI anterior, de junho, o câmbio de referência era de R$ 3,45.