A participação da Bolívia no projeto do gasoduto Venezuela-Cone Sul é fundamental para que o empreendimento seja economicamente viável. A afirmação foi feita ontem pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, depois de uma reunião em São Paulo com os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner (Argentina), para discutir o projeto do gasoduto. Chávez lembrou que a Bolívia tem a segunda maior reserva de gás natural da América do Sul:

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— A Bolívia é prioritária para o projeto, por causa de suas reservas de gás. Com a participação boliviana, o projeto é sustentável, inicialmente por 20 anos, e vai muito além.

Antes da afirmação de Chávez, a disposição de incluir a Bolívia — cujas relações com o Brasil estão em um momento tenso devido ao impasse principalmente sobre os negócios da Petrobras naquele país — havia sido manifestada por representantes do governo brasileiro. Mas não como um parceiro vital à obra.

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Logo após o encontro dos três presidentes, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, anunciou a decisão de incorporar gradualmente ao projeto outros países da região, inclusive a Bolívia. Já Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula para assuntos internacionais, falou em convidar a Bolívia.

Brasil, Venezuela e Argentina estão desembolsando cerca de US$ 10 milhões para bancar a análise da viabilidade técnica da obra, que transportará gás por mais de seis mil quilômetros, partindo da Venezuela e cruzando Brasil e Uruguai até chegar à Argentina. A implementação deve começar em 2009 e exigiria investimentos de US$ 17 bilhões a US$ 23 bilhões até sua conclusão, prevista para 2017.

Prazo para fim dos estudos foi prorrogado para agosto

As fontes de financiamento não estão decididas, mas, além de recursos das estatais Petrobras e PDVSA (da Venezuela), espera-se a participação de organismos internacionais, como Banco Interamericano de Desenvolvimento e Banco Mundial.

— O investimento se pagará em pouco tempo, creio que vão sobrar recursos — afirmou Chávez.

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Ele acrescentou que as reservas de gás natural da Venezuela somam 151 trilhões de metros cúbicos, volume 50% maior que todas as reservas conhecidas no continente — até então, o governo Chávez relutava em divulgar esse número.

Segundo estudos preliminares, o gasoduto Venezuela-Cone Sul teria capacidade de fornecer 150 milhões de metros cúbicos de gás por dia — contra os 27 milhões que passam pelo Brasil-Bolívia. Embora tenha dito que ainda é cedo para falar em preços, Chávez prometeu que o produto chegará "muito barato" aos países da região.

No encontro, também foi prorrogado de junho para agosto o fim do prazo para a conclusão dos estudos técnicos do gasoduto. Todos os países da região serão convidados para uma reunião no Brasil, em setembro, segundo Amorim.

O chanceler disse que a decisão da Venezuela de deixar a Comunidade Andina de Nações (CAN) e associar-se ao Mercosul é perfeitamente viável, mas exigirá reformulações nas regras da áreas de livre comércio do Cone Sul e também nas do bloco andino.

— Na medida em que alguns países assinaram acordos bilaterais de livre comércio com os EUA, isso fatalmente já envolveria algumas reformulações — disse Amorim, referindo-se às recentes negociações com Colômbia e Peru.

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A decisão da Venezuela foi anunciada semana passada e, segundo Amorim, só cabe ao governo Chávez. O chanceler pregou a união sul-americana, mas o presidente venezuelano criticou os parceiros andinos:

— Ou se está na comunidade andina ou se está com os EUA. É como água e azeite.

Governo venezuelano estuda limitar importações

Enquanto isso, o gabinete de Chávez estuda medidas para proteger a indústria venezuelana das importações, afirmou ontem a ministra de Indústrias Ligeiras e Comércio, Maria Cristina Iglesias. Uma das medidas, segundo a ministra, é limitar a quantidade conforme a capacidade de produção interna. Se a Venezuela produzir 50 itens de um determinado produto e precisar de cem, os outros 50 serão importados. Mas se produzir os cem, nada será importado.

Ano passado, as importações do país atingiram US$ 23,955 bilhões, o maior patamar em nove anos. A disparada dos preços do petróleo elevou as divisas e deu ao governo recursos para intervir no mercado cambial e controlar a cotação do dólar, o que barateou as importações.

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Hoje, a Venezuela importa quase tudo o que consome. Mas essa ofensiva contra os importados pode complicar a parceria com o Mercosul. Para ser membro pleno, a Venezuela deverá cumprir uma série de normas, como zerar tarifas alfandegárias com os países do Cone Sul.