Trabalhar ao lado de um colega que constantemente promove discussões ou ter um chefe implicante são conflitos corriqueiros no ambiente profissional. Além de atrapalhar o desempenho das tarefas, o envolvimento nessas situações pode até ter conseqüências na saúde do funcionário. Quando não resolvidas de forma amigável, a saída acaba sendo o desligamento da empresa.
Intrigas pessoais são responsáveis pelas confusões mais recorrentes no ambiente corporativo. "A antipatia começa antes mesmo do que é falado, é um processo inconsciente, de pensamentos críticos que se vai nutrindo sobre os colegas. Todos têm um lado positivo e um lado negativo e quem prioriza o negativo vai estar mais propenso a se envolver em conflitos", explica o consultor em desenvolvimento profissional Marco França.
O problema surge quando os conflitos se tornam maiores que os resultados de trabalho. "Essas situações ocupam a mente da pessoa e desviam energia que poderia ser usada nas atividades, fazendo com que o rendimento caia, além do clima hostil que se cria", completa França.
Entre as reclamações mais comuns está a do funcionário que prejudica o outro propositadamente, cria o conflito, mas quem fica com a culpa é uma outra pessoa. "Por exemplo, quando se precisa de uma determinada resposta e o colega não se esforça o mínimo para ajudar, limitando-se a dizer que ainda não tem a informação", cita a psicóloga organizacional e professora de Psicologia Comportamental, Jocely Burda. Ela destaca os recém-formados como grande perigo no ambiente organizacional, pois muitos chegam com uma visão de competição, não para contribuir. "Mas o contrário também ocorre. Pessoas que há anos ocupam determinado cargo boicotam os recém-chegados".
Especialistas concordam que, acima de tudo, o respeito à diferença deve ser mantido. "As equipes são sempre heterogêneas e, em um grupo unido, ocorrem trocas positivas e os defeitos de um são cobertos pelas qualidades de outro". Para manter essa coesão, o papel do chefe é fundamental. "O líder deve fornecer um clima de confiança dentro da equipe para evitar situações desconfortáveis, promover liberdade para conversar e manter aberto o processo de comunicação, sem menosprezar os conflitos", sugere o consultor França. Pensando nisso, a UniFAE oferece um módulo específico sobre Administração de Conflitos o objetivo é que os alunos possam desenvolver a competência necessária para liderar uma equipe. A professora Maria Aparecida Schirato conta que o investimento das empresas na solução de conflitos têm crescido pela falência de antigos métodos utilizados, como demissão e autoritarismo. "Não é interessante ficar trocando de funcionário o tempo todo e o autoritarismo puro e simples, embora inibao conflito, barra também a criatividade", avalia.
Quando o problema é o relacionamento com o chefe, uma queixa corriqueira, segundo a psicóloga Jocely, é de que o chefe sempre tem um funcionário preferido. "Na maioria das vezes, o que acontece é que o gestor prioriza as pessoas próativas e a agilidade na informação". Outras reclamações são de quando não há comando ou em situações em que existe autoridade demais, o que evita a participação dos demais na tomada de decisões. "A falta de um feedback sobre o trabalho, que ajuda a pessoa se desenvolver, ou de reconhecimento também são desmotivantes", aponta França.
Situação parecida foi a enfrentada pela publicitária Irene Cereja, que teve problemas com a chefia da agência em que trabalhou durante dois anos. Inicialmente contratada para uma função específica, em pouco tempo acumulou trabalho e ficou sobrecarregada. "O problema maior não foi o fluxo de trabalho, mas o não reconhecimento e as cobranças constantes do chefe, além da total desmotivação provocada em reuniões com a equipe." Esse ritmo trouxe conseqüências físicas para Irene, que teve stress e gastrite. Cansada, a solução encontrada por ela foi a demissão.