As previsões de variação do Produto Interno Bruto (PIB) das maiores economias da América Latina para o fim de 2016 deixam evidente uma divisão entre dois blocos no continente. Em um deles, formado por Argentina, Brasil e Venezuela, a expectativa do Banco Mundial é de que haja retração em relação ao ano passado. Já para outro grupo, composto por Colômbia, México, Chile e Peru, a previsão é de resultado positivo, mesmo diante da fraca atividade econômica no mundo.
EM NÚMEROS: Brasil e Argentina patinam, enquanto vizinhos do norte vão bem
Enquanto o Brasil precisa se esforçar para estabilizar o cenário político, controlar a inflação e retomar o crescimento econômico para reduzir o desemprego, Colômbia e México continuam a crescer mesmo com a queda dos preços do petróleo.
Ambiente de negócios
As características dos países também se refletem no ranking Doing Business, do Banco Mundial, que mede a regulamentação do ambiente de negócios ao redor do mundo. Enquanto Chile, Colômbia, Peru e México estão entre os 55 países mais bem colocados no ranking de facilidade para fazer negócios, o Brasil ocupa a 116ª posição, a Argentina a 121ª e a Venezuela a 186ª.
Os destaques negativos do Brasil são a estrutura tributária e as dificuldades em se começar um negócio, lidar com permissões para construções, registro de propriedades e obtenção de crédito. Os únicos quesitos em que o país está entre os 50 melhores colocados do ranking são o acesso à energia elétrica, a proteção de investidores minoritários e o cumprimento dos contratos.
O cenário global também não é favorável para Chile e Peru, mas os países andinos estão enfrentando o declínio do preço dos metais amparados em posições fiscais e monetárias sólidas. Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a América Latina, as políticas macroeconômicas desses países dão sustentação às suas economias neste período de cenário externo negativo.
“Brasil e Argentina são economias que não são frontalmente antiliberais, mas são posturas diferentes do que adotaram Peru e Chile”, avalia Luciano Ribeiro Sobral, economista do Santander. Segundo ele, esses países andinos decidiram seguir um modelo liberal mais ao pé da letra. “Escolheram um modelo de abertura comercial. São produtores de commodities, apostaram forte neste modelo de abrir o país e entrar em acordos de livre comércio, uma estratégia que relativamente funcionou nestes últimos anos”, diz.
Em suas análises destinadas a investidores internacionais, o Santander identifica algumas características que têm feito as economias de Colômbia, Peru, México e Chile atraentes para o capital internacional. Ainda que os bons resultados econômicos tenham particularidades em cada um desses países, mudanças na estrutura fiscal e regulatória, transparência, qualidade da infraestrutura, estabilidade macroeconômica e acordos de comércio exterior são alguns dos pontos positivos elencados pelo banco.
Por outro lado, a instituição financeira também assinala as características que fazem outras economias latino-americanas estarem em recessão. No Brasil, as principais são o peso e a complexidade da carga tributária, a lentidão da burocracia e a rigidez da legislação trabalhista.
Resiliência
Uma característica comum às economias que estão indo bem na América Latina, sobretudo no Chile e no Peru, é a capacidade de fazer política fiscal anticíclica. “Esses países assumiram que têm economias que dependem de commodities e aproveitam os períodos de bonança para fazer uma poupança para quando o cenário externo não for tão favorável”, diz Sobral.
Por outro lado, avalia o economista, o Brasil começou a ter déficit primário (receitas menos despesas, excluído o gasto com juros da dívida) enquanto o ciclo econômico ainda estava razoável e agora que precisa fazer um ajuste tem de adotar medidas que podem prolongar a recessão.
Brasil e Argentina fazem esforços para liderar a agenda econômica latino-americana
Atravessando momentos de mudanças políticas, Brasil e Argentina vêm se valendo dessa transição para conquistar a confiança do mercado e reposicionar suas economias na liderança da agenda econômica latino-americana. Ainda que os dois países tenham os maiores PIBs da América do Sul, o fraco desempenho econômico recente fez com que perdessem protagonismo na liderança da agenda econômica.
Na avaliação da consultoria Focus Economics, a Argentina vem enfrentando dificuldades para fazer a transição de sua economia altamente regulada para uma visão mais pró-mercado. Segundo um relatório da consultoria sobre a situação do país, a projeção de contração do PIB em 2016 deve-se a um doloroso, mas necessário, ajuste macroeconômico.
“Nós estamos indo no caminho certo, tanto Brasil como Argentina, para ter uma recuperação da economia, mas eu não diria que muito acelerada”, avalia o professor de economia da UFPR José Guilherme Vieira.
Para ele, o cenário é positivo porque Brasil e Argentina estão tomando medidas que sinalizam ao mercado que a direção a ser tomada aproxima as grandes economias sul-americanas das economias que estão tendo bom desempenho na América Latina. Com isso, há a retomada da confiança dos investidores, que já pode ser sentida nas seguidas altas da Bovespa.
“A bolsa já antecipou que o caminho que temos pela frente é um caminho de reformas que vão trazer resultados positivos”, diz Vieira. Para ele, entretanto, deve faltar força política ao governo brasileiro para encarar reformas cruciais. “Vamos avançar em duas áreas, privatizações e previdência. Eu não acho que Temer tem força política para fazer reforma trabalhista”, diz.
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