Depois da invasão chinesa na África, agora é a vez da América Latina. A China despejou mais de US$ 50 bilhões na região em empréstimos nos últimos 18 meses, aponta levantamento do JP Morgan. A maior parte são créditos garantidos com entrega de petróleo.

CARREGANDO :)

Companhias estatais e bancos chineses estão investindo pesado na região. A presença da China se expande por três vias: comércio, investimento e empréstimos. Os objetivos do gigante são garantir matérias-primas, vender produtos e diversificar suas reservas internacionais.

A Venezuela, do presidente Hugo Chávez, lidera com US$ 28 bilhões em créditos chineses. Em abril, foi selado um acordo de US$ 20 bilhões, a poucos meses de eleições legislativas.

Publicidade

Depois estão Brasil e Argentina, com US$ 10 bilhões cada O Equador recebeu US$ 2,7 bilhões. No caso brasileiro, é uma linha de crédito para a Petrobrás. A estatal informa que utilizou US$ 7 bilhões. "A magnitude desses acordos é surpreendente", disse Julio Callegari, economista do JP Morgan. Os acordos são fechados com o Banco de Desenvolvimento da China e com a PetroChina.

A América Latina ganhou relevância como fornecedora de petróleo para a China. Em 2009, a região vendeu 5,8% do petróleo importado pelo país, mais que o dobro dos 2,4% de 2004. "Existe uma liquidez gigantesca na China, que se transformou em fonte de financiamento fácil para outros", disse o sócio da Strategus Consult, Renato Amorim. "Também houve um amadurecimento dos mecanismos de financiamento chineses. Eles aprenderam a investir fora."

A enxurrada de dólares chineses é bem-vinda, porque significa dinheiro barato que ajuda países com dificuldade para viabilizar financiamentos de longo prazo. Mas o movimento também preocupa. "É um braço da política externa chinesa", disse o economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Maurício Mesquita Moreira.

O principal temor é o chamado "capitalismo de Estado". Muitos bancos e empresas chinesas são estatais ou contam com apoio do governo. Por isso, não se guiam só por lucro, mas também por decisões políticas.

Laços estreitos

Publicidade

Os laços entre América Latina e China se estreitaram. Nos últimos cinco anos, as exportações para o país mais que duplicaram no Peru e mais que triplicaram no Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Venezuela. A China já ultrapassou os EUA como o maior parceiro comercial do Brasil e do Chile.

O governo chinês está estimulando as empresas a adquirir ativos na África e na América Latina. Em 2009, a China respondeu por 18% do investimento estrangeiro no continente latino-americano, mas ainda é pouco. Em 2008, os chineses aplicaram US$ 43 bilhões na Ásia, US$ 5,5 bilhões na África e US$ 3,7 bilhões na América Latina.

No Brasil, dois grandes negócios foram anunciados recentemente: a State Grid comprou sete concessionárias de energia por US$ 1,7 bilhão, e a Sinochem comprou 40% de um campo de petróleo por US$ 3 bilhões. No mês que vem, o presidente do Banco da Indústria e Comércio da China (ICBC, o maior banco do mundo) estará no Brasil. "É um momento de virada. Deve vir mais investimento e crédito", disse o CEO para as Americas do Standard Bank, Eduardo Centola. O ICBC tem 20% do capital do Standard Bank. Ele explica que o foco do investimento chinês não é só a busca de matérias-primas, mas também novos mercados. Com a crise, EUA e Europa vão crescer menos, e a China precisa diversificar os clientes.

Desafios

Para o Brasil, a invasão chinesa na América Latina impõe desafios. O primeiro é a concorrência em mercados quase cativos. Um exemplo ocorreu no mês passado. Construtoras brasileiras estiveram no Chile para tentar participar das obras de reconstrução das áreas atingidas pelo terremoto que devastou o país. Chegaram tarde. Os chineses já haviam estado por lá com financiamentos imbatíveis.

Publicidade

"A competição com a China na América Latina vai se acirrar. É mais uma razão para elevar nossa competitividade", disse o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.

O segundo desafio é a compra de recursos naturais brasileiros pelos chineses. O País não possui legislação específica para investimentos estrangeiros em setores estratégicos.