A China provavelmente irá estimular sua economia no ano que vem, elevando sua demanda por commodities latino-americanas e blindando os países da região em relação à crise da dívida europeia, na avaliação do economista Joseph Stiglitz, ganhador do Nobel de Economia.
Pode-se confiar que a China irá usar suas enormes reservas para tentar evitar um declínio econômico, mas a maior ameaça à América Latina vem da reação de austeridade da Europa aos seus problemas financeiros, disse o ex-economista-chefe do Banco Mundial.
A América Latina não só deve sofrer uma redução nas suas exportações para a Europa como também será prejudicada pelo aperto na concessão de crédito pelos bancos espanhóis, que têm forte presença na região. Eventualmente, as filiais latino-americanas desses bancos serão obrigadas a fazer remessas para a matriz.
O banco Santander, por exemplo, tem grande presença no Brasil, maior economia da região, além de ser também o maior banco do Chile.
"A Europa está entrando em recessão, e isso vai abalar a demanda", disse Stiglitz, conhecido por sua defesa de maiores gastos governamentais em épocas de crise.
"É difícil não ver que esses bancos espanhóis operando no Chile passarão por uma contração. Isso vai exigir uma gestão muito cuidadosa da oferta de crédito", afirmou.
Desde antes de 2008, quando o estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos espalhou consequências financeiras pelo mundo todo, a América Latina desfruta de um forte crescimento econômico, alimentado parcialmente pelo insaciável apetite chinês por matérias primas.
Mas agora estão surgindo sinais de desaceleração na China, enquanto a Europa luta para encontrar uma solução para o seu excessivo endividamento.
China e Europa são os principais parceiros comerciais de países produtores de commodities, como Argentina, Brasil (ambos ricos em grãos), Venezuela (petróleo) e Chile (cobre).
"Os chineses estão sentados sobre 3 trilhões de dólares em reservas, e quando eles mandam seus bancos emprestarem, eles emprestam", disse o economista norte-americano.
"Se a economia chinesa precisa de estímulo, eles têm recursos e vontade política para isso. Também, ao contrário dos Estados Unidos, eles não têm metade do país comprometida com uma ideologia que diz que a forma de resolver os problemas é cortar gastos", afirmou. "Se a economia deles desacelera, eles gastam para continuar andando."
Apesar do estímulo chinês, disse Stiglitz, as economias latino-americanas "quase certamente" se ressentirão da crise em 2012, o que levará os governos a facilitarem o acesso ao dinheiro.
No caso do Brasil, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff declarou na sexta-feira que ainda há bastante margem para cortes nos juros, de forma a estimular a economia frente à fraqueza global.