O governo chinês divulgou neste domingo comunicado em que responsabiliza os Estados Unidos pela guerra comercial e afirma que não recuará nas "principais questões de princípios" para os chineses. O documento não fornece detalhes sobre os próximos passos em relação à disputa comercial, mas sinaliza disposição para retomar o diálogo com os EUA.
A China declara que manteve sua palavra ao longo das 11 rodadas e negociações e irá honrar seus compromissos se um acordo comercial for alcançado. Acusa também os EUA de voltarem atrás três vezes, impondo novas tarifas e outras condições além das previamente acordadas, e afirma que negociadores norte-americanos recorrem à "intimidação e coerção". Durante as conversas com os chineses, os EUA acusaram os negociadores do país de retroceder na negociação, particularmente no que se refere a mudanças explícitas nas leis. Desde então, e após os EUA restringirem o acesso da gigante tecnológica chinesa Huawei à tecnologia americana, a mídia estatal e as autoridades chinesas começaram a usar o termo "guerra comercial", até então proibido por Pequim.
O documento reitera três pré-condições para um acordo comercial: que os EUA removam "todas as tarifas adicionais" cobradas das exportações chinesas; que compras chinesas de produtos americanos para reduzir o déficit comercial dos EUA "devem ser realistas"; e que o texto de um acordo final seja "equilibrado". "Ambos os lados precisam fazer concessões; elas não podem ser todas de um lado", disse o comunicado.
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Opinião da Gazeta: Embate de gigantes
O governo chinês também demonstra disposição de retornar às negociações. "O que realmente importa é como aumentar a confiança mútua, promover a cooperação e gerenciar as diferenças." A repórteres, o vice-ministro de Comércio e representante internacional para a área da China, Wang Shouwen, declarou que Pequim está disposta a "adotar uma abordagem cooperativa para encontrar uma solução". A China "está expressando seu desejo de trabalhar em conjunto", avaliou o pesquisador do Centro China para Trocas Econômicas Internacionais, Zhang Yansheng.
Shouwen diz no documento que seu país poderia publicar em breve informações mais detalhadas sobre uma lista de entidades não confiáveis, mas adiantou que ela deve ter como alvos empresas que violaram "princípios de mercado" e reduziram o suprimento de componentes para empresas chinesas por razões não comerciais. Ele reforça também a possibilidade de a China restringir suas exportações de minerais conhecidos como terras raras, amplamente usados em carros elétricos e telefones celulares. O principal deles é o lítio, mais importante componente de baterias. "É inaceitável que países usam terras raras da China para fazer produtos e conter o desenvolvimento da [própria] China", afirmou Shouwen.
O governo chinês declara, além disso, que conta com espaço suficiente para realizar "manobras de política fiscal e monetária" a fim de manter saudável a economia do país. Apesar de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter imposto tarifas sobre as importações do país de produtos chineses como forma de reduzir o superávit comercial da China, Shouwen questionou o quanto a China de fato vem se beneficiando de seu superávit. Segundo Shouwen, um estudo conjunto entre chineses e americanos apontou que os números dos EUA poderiam estar inflados em 20%.
Muitas das exportações chinesas para os americanos, alega Shouwen, referem-se a itens produzidos por companhias estrangeiras que operam na China, e as empresas chinesas muitas vezes embolsam apenas uma taxa relativamente pequena para a montagem dos produtos. Ele lembra, por outro lado, que o déficit dos EUA com a China tem se acentuado desde que as tarifas às importações foram impostas por ambas as partes, com a queda de 50% das exportações de soja norte-americanas para compradores chineses e redução nas vendas de automóveis dos EUA na China.