História
O tempo em que o Brasil foi chinês
Por um período em fins dos anos 1960 e o início da década de 1970, o Brasil ostentou índices de crescimento econômico semelhantes aos que a China apresenta hoje. Entre 1968 e 1976, o PIB cresceu em média 10,1% ao ano, com um pico de 14%, em 1973. Foi a época do Milagre Brasileiro, sustentado por grandes obras, investimento estatal e crédito fácil no mercado internacional. "O grande segredo era o investimento. Em proporção do PIB, o Brasil investia mais do que o dobro de hoje", diz Judas Tadeu Grassi Mendes, da Estação Business School. A média chinesa atual é de 46%, enquanto que a brasileira aproxima-se dos 6%. "O brasileiro não devia se conformar com 4% ou 4,5%", comenta.
Perspectivas
PIB não deve cair abaixo de 8%
Marcelo Nonnenberg, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acha que a situação chinesa não é tão preocupante. O economista crê que o avanço chinês deve se reduzir para cerca de 8%, e um problema maior ocorreria se a queda for abrupta, para algo entre 5% e 6%. "Se a China crescer 9% neste ano, apenas 0,5 ponto percentual será pelo saldo comercial e 8,5 ponto percentual virão dos investimentos e do consumo interno", diz. Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e ex-ministro do Planejamento, lembra que a desaceleração já era prevista e que, pelo que tudo indica, ela deve ser suave isso se a China não surpreender mais uma vez e voltar a acelerar sua economia. "O atual plano plurianual da China já fala em desaceleração. O anterior também dizia e houve momentos que a economia cresceu mais", disse, alegando que um avanço do PIB um pouco menor, na casa dos 8% piora o cenário mundial.
Emergentes querem mais poder de decisão
Na abertura da cúpula do Ibas, grupo de países formado por Brasil, Índia e África do Sul, na semana passada, a desaceleração global foi um dos temas. A presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, defenderam que os países emergentes reivindiquem maior participação nos processos de decisão e mais coordenação nas decisões macroeconômicas. "Não podemos ficar reféns de visões ultrapassadas ou dos paradigmas vazios de preocupação social em relação ao emprego e em relação à riqueza dos povos", afirmou Dilma. "Como vivemos em um mundo globalizado e sofremos as consequências das turbulências do mundo desenvolvido, temos também o direito e o dever de participar da busca de soluções para essa situação de crise."
A presidente brasileira reforçou o pleito do Ibas para oferecer novos aportes de recursos ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que, em última análise, aumentariam o poder do grupo no processo decisório da entidade. Ela disse que é inadiável a regulamentação do sistema financeiro e acabar com a guerra cambial. Dilma lembrou ainda que provocar uma recessão não é saída para a crise. "Sabemos que processos recessivos jamais conduziram país algum a sair das crises. Temos credenciais sólidas para exigir novos fundamentos para a arquitetura financeira mundial. Esse legado deve se refletir no processo de reforma em curso no Fundo Monetário e no Banco Mundial."
Nesta época em que as economias tradicionais da Europa e América do Norte revelam fraquezas, virou lugar comum ver a China como salvador da pátria. Diz-se que, quando a China espirra, o mundo inteiro pega um resfriado. Se é assim, é melhor ter um lenço à mão: na última quarta-feira o gigante asiático anunciou uma desaceleração em seu crescimento econômico, deixando em alerta o mundo inteiro. Para o Paraná, essa queda pode significar a necessidade de os produtores de aves e suínos reverem seus planos de investimento.
Não é nenhum desastre: o crescimento chinês ainda é algo invejável para qualquer outra nação (9,1% ao ano). Mas é o terceiro trimestre seguido de desaceleração. As projeções já estão abaixo dos 9,22% de 2009, quando o país registrou as marcas da crise iniciada no ano anterior. Com isso, a segunda maior economia do mundo, com PIB de US$ 5,878 trilhões, parece abandonar o crescimento na casa dos 10% a que se acostumou na última década.
Para o Brasil, a notícia não é boa, uma vez que a China é o maior comprador de produtos nacionais e o saldo comercial com o país representa 41% do superávit total brasileiro nos nove primeiros meses do ano. O impacto mais óbvio é nas commodities (mercadorias negociadas no mercado internacional, como minério de ferro e soja), principais itens exportados.
Segundo professor Judas Tadeu Grassi Mendes, da Estação Business School, o impacto sobre o país não será tão grande. "A China é bastante dependente do Brasil e será cada vez mais", diz. "O chinês pode deixar de comprar carro, mas não alimento, e é isso que nós fornecemos a eles." De acordo com Mendes, o agronegócio na China está diminuindo e a demanda está crescendo, devido à migração da população para as cidades. A renda per capita também está aumentando, e mais renda significa mais demanda.
O Paraná tem desfrutado dessa demanda em alta. Os cinco principais produtos de exportação do estado são alimentares soja em grão, bagaço de soja, açúcar, carne e miúdos de frango e boa parte deles vai para a China, que importou US$ 2,6 bilhões em mercadorias paranaenses entre janeiro e setembro (24,5% a mais que no mesmo período do ano passado).
Para o professor Eugenio Stefanelo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a soja deve ser pouco afetada pela desaceleração chinesa. As compras vão continuar e as reduções de preço que forem registradas devem ser compensadas pelo câmbio, já que as cotações do dólar têm subido. Mas o açúcar deve perder preço no mercado internacional, em decorrência de uma demanda global menor. A procura internacional por aves e suínos deve cair, e aí há alguma razão para preocupação. "O setor de aves pode não continuar crescendo 10% ao ano, como vinha ocorrendo. Se o segmento continuar com os projetos de aumento de produção, há o risco de o preço cair mais, talvez abaixo do custo de produção", opina Stefanelo. Em menor escala, a mesma preocupação afeta a produção e exportação de suínos.
O Brasil também pode perder nas exportações da indústria, de acordo com Júlio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. "A desaceleração atinge outros países que estão crescendo no embalo chinês e que compram nossos produtos industrializados, como os vizinhos sul-americanos", observa.
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