Más notícias vindas da China e da Alemanha reforçaram os temores de queda na atividade econômica mundial e provocaram perdas nas principais bolsas do mundo. No Brasil, o dólar comercial subiu quase 3% em relação ao fechamento de terça-feira, atingindo R$ 1,86 no encerramento dos negócios, a maior cotação deste 4 de outubro.
Na China, a atividade industrial teve o seu pior resultado em 32 meses, realimentando temores de que a atual "locomotiva" da economia mundial esteja num processo de "desaceleração brusca" do crescimento. O Índice de Gerentes de Compras, divulgado pelo banco HSBC, esteve no nível de 48 pontos em novembro, o pior patamar desde março de 2009. Pela metodologia desse estudo, elaborado a partir de entrevistas com executivos em mais de 400 empresas, qualquer marca abaixo de 50 pontos significa contração do nível de atividade.
"O pior ainda está por vir", disse Conita Hung, chefe do departamento de pesquisas do grupo financeiro Delta Asia, prevendo dificuldades para os setores financeiro e de comércio exterior. Para especialistas, caso a inflação desacelere, Pequim pode abandonar as medidas pontuais de apoio à economia e partir para ações mais amplas, de modo a manter o país numa trajetória de "desaceleração suave". Na China, o setor industrial representa cerca de 47% do Produto Interno Bruto (PIB).
Na Alemanha, a maior economia da União Europeia, o mercado demonstrou pouco interesse no leilão de títulos realizado pelo governo. A demanda ficou abaixo da oferta, o que surpreende porque o país é visto atualmente como um dos poucos "portos seguros" para o capital financeiro num continente abalado por dificuldades tanto nas nações periféricas quanto nos membros de maior relevância econômica.
Segundo o órgão alemão responsável por essas operações, o lançamento de 6 bilhões de euros (cerca de US$ 8,1 bilhões) em títulos soberanos para vencer em dez anos teve apenas 60% da demanda esperada. Em um comunicado oficial, o representante do Executivo alemão culpou "o ambiente extraordinariamente nervoso do mercado financeiro".
Para complicar, o Banco Central da Grécia afirmou que o país o mais encrencado da zona do euro pode ser forçada a deixar a moeda comum, a menos que cumpra todas as metas previstas em um acordo em outubro.
Diante da renovada safra de notícias ruins, a Bovespa não teve escapatória a não ser sucumbir à queda das bolsas internacionais na Europa, na Ásia e nos EUA, alguns dos principais pregões fecharam com perdas entre 2% e 3%. Mas, mesmo em baixa, a bolsa brasileira resistiu para entregar o nível de 55,2 mil pontos patamar considerado crítico pelos analistas gráficos , o que, entretanto, acabou ocorrendo na hora final do pregão.
Além dos dados de China e Alemanha, a proximidade do feriado norte-americano do Dia de Ação de Graças, nesta quinta-feira, afugentou ainda mais os investidores do risco. O Ibovespa encerrou o dia com retração de 1,62%, nos 54.972,08 pontos, menor nível desde 20 de outubro. No mês, acumula perda de 5,77% e, no ano, de 20,68%.
Comissão Europeia anuncia plano de título público continental
Folhapress
A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, anunciou ontem um plano que tira poder dos Estados-membros de gerir suas políticas econômicas e cria, em troca, os "eurobônus", rebatizados de "stability bonds" (títulos sólidos). Os países teriam, por exemplo, de apresentar à comissão suas propostas de orçamento antes de submetê-los aos seus parlamentos. "Sem uma maior governança econômica na zona do euro, será difícil, se não impossível, manter a moeda comum", afirmou José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia.
Na caso dos "stability bonds", a proposta mais ambiciosa prevê que esses títulos sejam garantidos pela União Europeia como um todo, e não pelo país que os emite, como ocorre hoje. É a falta de confiança de que alguns países honrem suas dívidas que tem feito os mercados exigirem juros cada vez mais altos para emprestar a eles. Os "eurobônus", com mais garantias, seriam uma forma de baixar esses juros.
Mas a proposta já foi bombardeada pela Alemanha. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que não funcionariam e que é inapropriado a Comissão Europeia focar nesse ponto. "A ideia que circula é que por meio da coletivização da dívida será possível superar os problemas estruturais da UE. Isso não vai funcionar." Para ser implantada, toda proposta da Comissão Europeia para a zona do euro precisa ser aprovada por todos os 17 países-membros.