Uma reforma tributária “para ontem” e avanços na desburocratização são alguns dos passos necessários para o Brasil se beneficiar da guerra comercial entre Estados Unidos e China. O diplomata brasileiro em Pequim, Celso de Tarso Pereira, acredita também ser importante diversificar a produtividade brasileira. “Tem a ver com educação e preparação da nossa força laboral. Nós precisamos melhorar muito”, afirma.
O Brasil tem um superávit com a China de US$ 30 bilhões, mas a crise entre EUA e o país asiático causa instabilidade no mundo inteiro. Para Tatiana Prazeres, professora na Universidade de Negócios Internacionais em Pequim e colunista da Folha de São Paulo, “a relação entre Estados Unidos e China será a relação da próxima década”. Além disso, a professora ressalta a interdependência dos países.
A China é o principal parceiro importador e exportador do Brasil, movimentando um total de US$ 100 bilhões. "Os números falam por si mesmos. Em 15 anos, entre 2004 e 2019, o comércio passou de US$ 9 bilhões para US$ 99 bilhões. Isso nas duas direções, Brasil–China”, diz Pereira. A relação comercial está concentrada na exportação de produtos como soja, minério de ferro, petróleo, celulose e carnes.
Para o diplomata, a China está pronta para comprar o que o Brasil oferecer, mas é preciso dar um salto na oferta de produtos com valor agregado, como carros e computadores. “A luz da guerra comercial com os EUA é preciso ter outros parceiros confiáveis e o Brasil pode crescer muito com isso, mas de maneira sustentável”.
Missões governamentais buscam negócios com a China
“A gente vê em Pequim missões empresariais de todo tipo, fintechs, startups, primeiro aprendendo com a China e depois buscando realizar algum negócio lá ou no Brasil. A China é um grande investidor aqui, então é um ciclo virtuoso”, diz Pereira. Além dos empresários a quantidade de missões do governo, desde presidentes, ministros, governadores e prefeitos, aumentou, segundo ele.
Como diversificar os negócios
“Exportamos commodities, isso é bom para o Brasil, e elas já têm um grande percentual de valor agregado e tecnologia, agricultura não é só pôr no saco e mandar. Tem muita tecnologia nas carnes processadas, por exemplo”, afirma o diplomata.
Melhorar o sistema produtor exportador brasileiro é um dos passos. “Porque para sair de commodities para outros tipos de bens e serviços, tem de ser uma iniciativa brasileira. Os entraves são nossos e são os de sempre. Como o sistema tributário, carga tributária onerosa”.
Pereira ressalta que na China vale o ditado “não importa a cor do gato, o que importa é que ele pegue o rato, ou seja, não importa o tipo de empresa, desde que ela funcione”. E o Brasil precisa manter a rota de negócios com os Estados Unidos, assim como a União Europeia, e a Ásia como um todo. “O Brasil tem que se abrir para esses pólos e se engajar de verdade”, diz.
Nova Guerra Fria?
Tatiana Prazeres vê com alguma resistência essa comparação entre a atual guerra comercial entre americanos e chineses com a Guerra Fria, que dividiu americanos e soviéticos. A professora afirma que a diferença está basicamente em três pontos: a rivalidade atual é essencialmente econômica e tecnológica – a China e os Estados Unidos são muito interdependentes e a China não está interessada em exportar seu modelo político.
Apesar de achar que não é uma guerra fria, ela acredita que há um descolamento na área tecnológica. Já que a maior preocupação dos Estados Unidos é evitar a exposição do país e retardar o desenvolvimento chinês. O risco desse duelo é a intensificação do sentimento de sinofobia, preconceito contra os chineses.
Celso de Tarso Pereira e Tatiana Prazeres participaram do evento “Um mundo sino cêntrico? Aspectos políticos, econômicos e jurídicos da nova China”, realizado no Instituto dos Advogados do Paraná, na última quinta-feira (6), em Curitiba.
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