A China registrou seu primeiro déficit comercial mensal em seis anos em março, e analistas comentam que o resultado poderá complicar uma eventual decisão das autoridades chinesas em direção à apreciação do yuan. O déficit, de US$ 7,24 bilhões, reflete elevação de 66% das importações em março em comparação ao mesmo mês do ano passado, puxada por compras do exterior de montantes recorde de petróleo e cobre, em meio a uma elevação nos preços de tais commodities.
Os números sugerem que riscos inflacionários estão sendo importados pela China e um potencial superaquecimento da economia doméstica, uma situação que, segundo economistas, pode adiar eventual decisão das autoridades chinesas de apreciar sua moeda. Horas após a divulgação dos números, o Ministério do Comércio da China indicou que os mais recentes dados sobre a balança comercial ampliam a percepção de que não há necessidade de mudanças na atual política cambial da China. O ministério tem resistido à ideia de apreciação do yuan, temendo atingir negativamente os exportadores chineses, que se recuperam da crise financeira e econômica global.
"Enquanto a taxa de câmbio do yuan esteve basicamente estável, o superávit comercial da China continuou a cair e chegou a registrar déficit em março", observou o porta-voz do ministério do Comércio, Yao Jian. "Isso nos mostra que o fator decisivo para uma balança equilibrada não é a taxa de câmbio, mas outros fatores, incluindo a relação entre a oferta e a demanda do mercado", concluiu.
Economistas dizem que o déficit reflete uma situação temporária, já que a atividade econômica foi parcialmente distorcida porque as fábricas fecharam durante uma semana para o feriado do Ano Novo Lunar, ocorrido este ano em fevereiro. "O déficit comercial obviamente será citado como uma evidência de que o fluxo do comércio está se ajustando apesar da manutenção da moeda, mas não acreditamos que será suficiente para evitar a apreciação do yuan nos próximos meses ou semanas", disse o analista do RBC Capital Markets, Brian Jackson.
"Acreditamos que Pequim irá ajustar a moeda não porque queira apaziguar as pressões internacionais relacionadas aos fluxos comerciais, mas porque as condições domésticas indicam que tal movimento será do interesse do país. Em particular, a maior pressão sobre os preços claramente sugere que uma política mais apertada será necessária nos próximos meses e uma moeda mais forte estará nesse pacote", acrescentou.
O déficit de março, o primeiro desde abril de 2004, superou o déficit de US$ 280 milhões esperado, após as autoridades chinesas terem alertado para o resultado negativo. As importações somaram US$ 119,35 bilhões em março, crescendo pelo quinto mês seguido e representando uma elevação de 66% em comparação a março do ano passado. Em fevereiro, as importações registraram uma alta anual de 44,7%. Economistas esperavam que as importações subissem 55% em março.
As exportações expandiram-se 24,3% em base anual, para US$ 112,1 bilhões, aumento inferior à alta de 45,7% anual registrada em fevereiro. Economistas previam elevação de 25% das exportações. No primeiro trimestre, a China obteve um superávit comercial de US$ 14,49 bilhões, 77% inferior ao superávit registrado no primeiro trimestre de 2009, mas mostrando que a relação comercial da terceira maior economia com o resto do mundo ainda produz superávit ao país.
O déficit comercial de março ocorreu em grande parte em consequência de balança negativa com Taiwan, Japão e Coreia do Sul, segundo informações da alfândega. No primeiro trimestre, as exportações da China para a União Europeia, seu maior parceiro comercial, subiram 31% para US$ 65,37 bilhões; para os EUA, segundo parceiro comercial, as exportações cresceram 19,7%, para US$ 54,45 bilhões. Ambas regiões são os maiores críticos da atitude adotada pela China de suspender a política de flexibilização gradual do yuan em 2008, por causa do aprofundamento da crise financeira e econômica mundial.