Comprar uma fábrica no Brasil e mudá-la para a China: um plano complexo, levado em conta seu nível de ambição. Mas se existe alguém capaz de fazê-lo, esse é o multimilionário chinês Yin Mingshan – assim, é claro, que o governo brasileiro der sinal verde para seu arrojado projeto. O "alvo" do plano é a fábrica de motores Tritec, em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba. Não é a primeira vez que se fala em levá-la para a China.

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"O Brasil nos disse que podemos comprar a fábrica, mas só se concordarmos em não tirá-la do lugar", disse Yin, 69, fundador e diretor da Chongqing Lifan Holdings, uma gigante das motocicletas que agora espera juntar outra fortuna através de automóveis. A fábrica nasceu de uma joint venture entre a DaimlerChrysler e a BMW, avaliada em US$ 500 milhões (quase R$ 1 bilhão), e produz motores 1.4 e 1.6.

A Lifan, cuja sede se encontra na agitada metrópole chinesa de Chongqing, é um dos compradores destes motores. Eles são instalados no Sedan 520, lançamento da empresa que se aventura assim no setor automobilístico. Mas além de ser um simples cliente, a Lifan tem manifestado há tempos seu interesse em comprar a fábrica.

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Uma decisão final sobre o assunto precisa ser adotada logo, já que o contrato de joint venture entre a Chrysler e a BMW expira no final de junho, o que força a uma decisão sobre o futuro da companhia. A fábrica do Brasil interrompeu sua produção em meados de junho e não fez nenhum novo anúncio sobre quando voltará a funcionar. Seus 382 empregados esperam em casa.

Yin disse que só pode especular sobre as razões pelas quais o governo brasileiro se nega a permitir o translado da fábrica, mas sugeriu que a perda de empregos talvez seja a maior preocupação.

Os sócios da joint venture não quiseram se comprometer quanto ao futuro da fábrica brasileira. "Estamos explorando futuras opções para a joint venture da Tritec, mas ainda é prematuro discuti-las até esse ponto", disse Trevor Hale, um porta-voz da DaimlerChrysler. "É possível que os atuais acordos possam ser estendidos com o fim do atual contrato", completou.

Em Campo Largo, o gerente jurídico, de comunicação e relações governamentais da Tritec, Thomás Prete, prefere não especular. "Não vamos especular sobre o futuro da empresa. Continuamos prospectando volumes com os atuais clientes, e questões sobre a eventual venda da empresa dizem respeito exclusivamente à acionista Chrysler, que está buscando alternativas viáveis para a continuidade do nosso negócio."

A permissão para mudar a fábrica de lugar provavelmente é um requisito indispensável para a Lifan comprá-la, consideram analistas. "Se não transportarem a fábrica e embarcarem os motores terminados para a China, os custos serão muito mais altos", apontou Jia Xinguang, um analista da consultora China Automotive Industry Consulting and Development Corp, baseado em Pequim.

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"Não falamos de um preço", disse Yin, o fundador da Lifan. "Mas como a fábrica já não é nova, esperamos ter que pagar menos que o montante originalmente investido pelos dois sócios do joint venture", acrescentou. Financiar o acordo não será um problema, enfatizou, e sugeriu que se recorresse a um crédito bancário. "Vivemos num mundo de liquidez mais do que abundante. Vivemos em uma China de liquidez mais do que abundante."