Municípios vizinhos a Curitiba estão vivendo um novo boom de comércio e serviços. Em busca do apetite por compras da nova classe média e de menos concorrência, grandes redes do varejo estão investindo na abertura de lojas em cidades como Pinhais, Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande e Araucária. O pleno emprego e o inchaço de Curitiba em alguns segmentos estão fazendo com que empresas reforcem investimentos em cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
A rede de farmácias Nissei inaugurou três lojas neste ano, em Pinhais, Colombo e Araucária, e prepara-se para abrir mais duas em Almirante Tamandaré e mais uma em Araucária até o fim do ano. "As vendas nos demais municípios da Região Metropolitana de Curitiba crescem em média 41% mais do que em Curitiba", diz Patricia Maeoka, conselheira executiva do grupo, que tem na RMC 26 das suas 207 lojas.
Em Curitiba, o mercado de farmácias assistiu, nos últimos anos, à chegada de grandes grupos de fora, como a paulista Droga Raia e a gaúcha Panvel, o que ajudou a aumentar a disputa pelo cliente. "O mercado de Curitiba está consolidado, as lojas estão maduras. Nesses municípios, por outro lado, ainda prevalecem as farmácias independentes, a maioria de controle familiar", diz Patricia.
"A Região Metropolitana de Curitiba vem recebendo novos investimentos industriais e é natural que essas cidades passem a atrair novos serviços. Aos poucos elas tendem a deixar de ser apenas cidades-dormitório", afirma José Ivair Motta Filho, superintendente administrativo do grupo de colégios Acesso. No ano passado, o Acesso comprou um colégio em Almirante Tamandaré e esse ano inaugurou um em Fazenda Rio Grande. Os investimentos chegam a R$ 1,8 milhão. "Para 2013 estamos prospectando novas sedes. A ideia é ter até três novas unidades nos municípios da região", afirma. Com oito colégios e 4,7 mil alunos, o grupo pretende crescer entre 10% e 15% ao ano.
A rede de supermercados Condor acaba de inaugurar, com com investimento de R$ 30 milhões, um novo supermercado em Pinhais, cidade que também já recebeu investimentos de redes como Havan, McDonald´s, Walmart e Balaroti. A rede mexicana de lojas Coppel, que tem sete lojas no Paraná três delas na Região Metropolitana de Curitiba inaugura em breve uma loja em Fazenda Rio Grande.
O crescimento do mercado imobiliário, puxado principalmente pelos empreendimentos do programa de habitação popular Minha Casa, Minha Vida também vem estimulando os investimentos. Redes de lojas de material de construção, como Balaroti, estão reformando e ampliando unidades. "Tínhamos uma loja de mil metros quadrados em São José dos Pinhais e a transformamos em uma área de 5 mil metros quadrados em janeiro desse ano. Fizemos o mesmo com a de Pinhais e reformaremos também a loja do Atuba para atender a demanda de Colombo", lembra Eduardo Balarotti, diretor de marketing. Segundo ele, o investimento, em cada loja, varia de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões.
"A diferença é que, com o desenvolvimento das cidades, a renda aumenta e a demanda vai se sofisticando, com uma procura maior por produtos de decoração, de acabamento e material elétrico. Por isso ampliamos nossas lojas, apesar da concorrência com as pequenas lojas", diz.
Aumento da renda, emprego e população são decisivos
Crescimento populacional, baixo nível de desemprego e avanço do mercado imobiliário para a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) ajudam a explicar porque esses municípios se transformaram em alvo das redes de varejo. "De maneira geral, a demografia segue a economia. São cidades que registraram, nos últimos anos, um adensamento econômico, passaram a receber novos moradores, parte deles da chamada nova classe média. Esse caminho é natural", afirma Julio Suzuki, diretor de pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes).
Fazenda Rio Grande, por exemplo, registrou crescimento de quase 30% na sua população entre 2000 e 2010. Hoje a cidade tem 81,7 mil habitantes. Piraquara cresceu 28% na mesma base de comparação, para 93,2 mil.
O movimento atinge principalmente os municípios mais próximos de Curitiba, aqueles mais integrados à capital. "A região metropolitana é muito grande, com 29 municípios. Mas esse desenvolvimento se dá no núcleo urbano central", afirma Suzuki.
Com o preço dos imóveis inflacionado, muitas famílias estão indo morar nas cidades vizinhas, o que ajuda a criar demanda nova por serviços. Além disso, a renda média do morador da região de Curitiba é a maior entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Isso ocorre por três fatores forte presença de indústrias, que pagam salários mais elevados, média de idade superior às demais e baixo nível de desemprego, de acordo com Suzuki. Mas há diferenças em relação à capital. O morador da RMC é mais jovem, tem menos escolaridade e renda menor, o que representa um potencial de crescimento para os próximos anos.
A sete quilômetros de Curitiba, Pinhais, com 110 mil habitantes, é um bom exemplo. Nos últimos três anos recebeu, entre outros, duas lojas Todo Dia e um Maxxi Atacado bandeiras do grupo Walmart além de unidades da Havan , Balaroti, Bigolin, McDonalds, Subway e Condor. Nas próximas semanas passará a contar com uma loja da rede de varejo de eletroeletrônicos Cem e uma concessionária Globo Renault, segundo o secretário de desenvolvimento econômico, José Zeitel.
Segundo ele, a proximidade em relação a Curitiba e a existência de condomínios residenciais, como Alphaville e Pineville, atraíram moradores para a cidade. Zeitel garante que não concede incentivos fiscais para a instalação de empresas varejistas no município. "É um movimento natural. As empresas estão vindo atrás da demanda e não de incentivos", afirma.