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A taxa de desemprego caiu em 25 das 27 unidades da federação entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, segundo o IBGE. Apesar desse movimento positivo, a realidade do emprego varia muito pelo país (veja tabela ao fim desta reportagem).
De um lado, há estados próximos do “pleno emprego”, situação em que, teoricamente, todos que buscam trabalho podem encontrar um com relativa rapidez. De outro, há unidades da federação com taxas de desocupação superiores a 10% da população economicamente ativa.
Cinco estados brasileiros – Rondônia (2,4%), Mato Grosso (3%), Santa Catarina (3,5%), Mato Grosso do Sul (4,1%) e Paraná (4,9%) – estavam com taxas de desemprego inferiores a 5% ao fim do primeiro semestre.
São índices próximos ou inferiores aos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – onde a desocupação se encontra nos menores níveis da história. Em julho, o desemprego médio nesse grupo, conhecido informalmente como o “clube dos países ricos”, era de 4,8%, pouco acima do piso de 4,7% atingido no mês anterior.
As taxas desse time seleto de estados brasileiros também se aproximam do conceito de pleno emprego. Não há consenso sobre qual seria a taxa de desocupação para isso, mas estima-se que ela se situe em algum ponto entre 3% e 6%, a depender da fonte consultada.
Agropecuária é "motor" nos estados campeões da safra
Um dos fatores que contribuiu para este cenário foi o bom momento da agropecuária. Beneficiada pelo bom tempo no campo, a safra de grãos deve registrar um recorde de 320,1 milhões de toneladas, 17,4% a mais do que no ciclo anterior, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“A agropecuária vem, há tempos, registrando um bom desempenho e isso estimula o emprego em parte desses estados”, diz o economista Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Fortes crescimentos na colheita foram registrados em Mato Grosso (16,5%), Mato Grosso do Sul (23,3%) e Paraná (34,9%). Na safra anterior (2021/22), os últimos dois estados sofreram com a estiagem.
Mato Grosso foi o estado que criou, neste ano, proporcionalmente, o maior número de empregos com carteira assinada no país. A expansão, até junho, foi de 4,8%, o dobro da nacional, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Em paralelo, a taxa de desemprego no estado caiu de 4,4%, na primeira metade de 2022, para 3%, segundo o IBGE.
Além da agropecuária, o estado vem registrando bom desempenho em outros setores. A produção industrial, por exemplo, aumentou 7,8% em 12 meses, ao passo que no país o indicador permaneceu praticamente estável.
As vendas no comércio varejista ampliado, que inclui materiais de construção e veículos, aumentaram 6,7% em 12 meses até junho. E o volume de serviços prestados avançou 15,5%.
Dinamismo favorece Santa Catarina
Em Santa Catarina, onde a taxa de desemprego estava em 3,5% em junho, a explicação para o desempenho do mercado de trabalho é outra. “O estado tem uma economia mais dinâmica, o que deixa o mercado de trabalho mais protegido”, destaca Tobler.
Dados do Caged mostram que nos seis primeiros meses do ano foram criadas 61,5 mil oportunidades de trabalho com carteira assinada, dos quais 50,7 mil na indústria e nos serviços.
Apesar da diferença no perfil econômico, Santa Catarina e Mato Grosso têm pontos em comum no mercado de trabalho, ressalta o economista Lucas Assis, da Tendências Consultoria.
“As baixas taxas de desocupação estão associadas ao alto percentual de ocupados na população em idade de trabalhar, acima da média nacional, beneficiado pelo desempenho positivo da atividade econômica local nos últimos anos”, diz.
Em Santa Catarina, essa taxa – conhecida como nível de ocupação – era de 67,2% em junho, enquanto em Mato Grosso era de 65,5%. No país, de acordo com o IBGE, o índice era de 61,6%.
Rondônia: baixo desemprego, mas alta informalidade
A menor taxa de desemprego no país está em Rondônia. No fim do primeiro semestre, ela era de 2,4%, segundo o IBGE. Mas não reflete necessariamente um mercado de trabalho mais dinâmico, apontam analistas ouvidos pela Gazeta do Povo.
Segundo Assis, da Tendências, a baixa desocupação em Rondônia está associada à reduzida taxa de participação da força de trabalho, que é de 56,7%. “Isto sugere uma busca relativamente menor por ocupação”, afirma o economista.
O número de pessoas trabalhando por conta própria nesse estado também é grande, aponta o analista da Tendências. O percentual é de 36,9%, enquanto no país atinge 25,5%.
Outro problema, segundo Tobler, do Ibre/FGV, é a taxa de informalidade. Ela é de 48,4% em Rondônia, uma das mais elevadas do país.
Falta de competitividade alimenta o desemprego em outros estados
Sete estados – Pernambuco, Bahia, Amapá, Rio de Janeiro, Paraíba, Sergipe e Rio Grande do Norte – estão com taxas de desemprego superiores a 10%. A relação inclui unidades da federação que, segundo o Centro de Liderança Pública (CLP), estão fora da relação das dez mais competitivas.
Um dos entraves nesses estados é de natureza estrutural: não são economias dinâmicas. No caso do Nordeste, há um outro agravante, diz Tobler: a região sofre com problemas climáticos como a falta de chuvas.
O Rio de Janeiro é um caso especial. O estado é o “lanterna” do crescimento neste século entre as unidades da federação. A média de crescimento entre 2002 e 2020, último dado disponível, foi de 0,71% ao ano, muito abaixo da velocidade média brasileira (1,97% ao ano), que já não é das maiores.
A taxa de desemprego no Rio de Janeiro, que era de 11,6% no final do primeiro trimestre, caiu para 11,3% no segundo. “Desde antes das Olimpíadas, em 2016, que o Rio de Janeiro não vai bem. Passa por uma severa crise fiscal e teve vários governadores presos”, afirma o economista do Ibre/FGV.