| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O Banco Central passou o ano dizendo que estava trabalhando para a inflação cair para o centro da meta, de 4,5%, já no fim do ano que vem. O mercado não acredita: a projeção hoje é de alta de 6% nos preços em 2016, pelo IPCA. Nem a alta dos juros, nem a forte recessão da economia estão fazendo os preços convergirem para a meta. Há pelo menos cinco razões para isso.

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Câmbio

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Influenciado pelo ambiente político instável, pela provável alta nos juros nos Estados Unidos e pelo déficit público recorrente (que piora as perspectivas para o país), o real passou por uma desvalorização de 30% neste ano. Nos piores dias, a cotação do dólar passou de R$ 4. Esse movimento contamina os preços de produtos importados ou cotados em dólares (principalmente as commodities), pressionando a inflação.

Déficit público

O governo não tem conseguido controlar o déficit público, tendência que tem efeito inflacionário. Em uma frente, o déficit mostra que o consumo público não vai cair, ou seja, não colabora para segurar preços. Além disso, quando o governo está com as contas no vermelho, sobe o risco de ele relaxar no controle da inflação como forma de desvalorizar sua dívida. O mercado percebe o movimento e deixa de acreditar no cumprimento da meta.

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Memória inflacionária

Os preços da energia e da gasolina foram segurados nos últimos anos para que o governo pudesse manter a inflação dentro da meta. Neste ano, as tarifas foram reajustadas, fazendo com o que IPCA chegasse a quase 10%. Como boa parte da economia brasileira ainda é indexada (herda a inflação passada), o “realismo tarifário” vai contaminar os preços no ano que vem. O governo vem estudando formas de reduzir a indexação, entre elas a diminuição do peso da inflação passada nos reajustes de preços administrados.

Mercado de trabalho

Nos últimos anos, uma das fontes de inflação foi a combinação de salários em alta com produtividade em baixa (uma combinação de produtividade e salários em alta não provocaria inflação). Com o aumento do desemprego, os salários deixam de ser uma pressão inflacionária. O problema é que esse movimento é bastante lento.

Expectativas

O que as pessoas esperam sobre o futuro influencia o resultado da inflação. Nos últimos anos, o governo perdeu boa parte da confiança do mercado e da população de que manteria a inflação na meta. Recuperar essa expectativa é um trabalho difícil, vai depender da comunicação do Banco Central e de um ajuste fiscal bem-sucedido.