Acostumados a acompanhar notícias e telenovelas pela rádio, os curitibanos pararam boquiabertos em frente das Lojas Tarobá para ver, pela primeira vez, a imagem de um programa televisivo. Todos queriam saber como era a tal televisão e o que tinha "dentro" dela. Os chuviscos deram vez à imagem em preto e branco às 19 horas de 29 de outubro de 1960. Era inaugurada a primeira emissora de televisão no Paraná, chamada de TV Paranaense ou Canal 12, atual RPC TV existiam cerca de 300 aparelhos em toda a cidade na época.
Hoje a rede comemora as bodas de ouro, que serão marcadas pelo show de Roberto Carlos, no próximo dia 6. "Ele completou 50 anos de carreira no ano passado, por isso achamos que era o momento de trazê-lo a Curitiba. Esperamos que seja um grande evento", afirma o vice-presidente do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCom), Mariano Lemanski.
O início
As primeiras imagens mostraram o então arcebispo de Curitiba abençoando a inauguração do estúdio ao lado do proprietário e fundador da tevê, o empresário Nagib Chede. "Nagib foi um grande visionário. Ele esteve nos Estados Unidos para fazer um check up e na clínica havia câmeras que gravavam os pacientes. Ele ficou apaixonado pelo que viu. Comprou duas câmeras e trouxe para Curitiba", conta o funcionário Fritz Bassfeld, que era "copydesk" (digitador) na televisão.
Numa minúscula sala do Edifício Garcez foram feitos os primeiros experimentos, em 1954. "Era muito mais por paixão do que por profissionalismo", afirma Bassfeld. Depois o estúdio mudou para o Edifício Tijucas, improvisado em uma kitinete, onde ocorreu a primeira transmissão ao vivo (ainda não existia videoteipe). A programação começava às 18 horas e terminava às 23 horas. "O seriado que passou no dia da inauguração se chamava Susie, Minha Secretária Favorita", afirma Renato Mazânek, autor do livro Ao vivo e sem cores, um dos primeiros a trabalhar na TV Paranaense. A primeira transmissão externa foi feita dois anos após a inauguração. Uma das poucas câmeras do estúdio foi levada para a marquise do Tijucas e mostrou um comício que ocorria na Praça Osório.
Apesar de no início a programação não ser 24 horas, ela era bastante variada: tinha telenovela, teleteatro, shows musicais e noticiário. Bassfeld lembra que, como eram precários os recursos para fazer o telejornal, a TV Paranaense tinha acordo com dois jornais locais para retransmitir as notícias. Mais tarde, Chede procurou a Gazeta do Povo para fazer a mesma parceria foi então que o empresário e advogado Francisco Cunha Pereira Filho, proprietário da Gazeta, se interessou pela televisão, que comprou em 1970.
Futuro
Além de ser a emissora pioneira no Paraná, a RPC TV foi a primeira a trabalhar com o videoteipe, permitindo a gravação dos programas. E continua sendo precursora: no ano passado apresentou as primeiras transmissões digitais no estado e no último sábado transmitiu o primeiro jogo de futebol em alta definição no estado. E já se prepara para iniciar a produção jornalística em high definition (HD).
Líder de audiência na região, a tevê completa cinco décadas de existência planejando investir R$ 25 milhões em 2011, com os esforços voltados principalmente para a produção de conteúdos locais de dramaturgia e o fortalecimento da cobertura jornalística, para aumentar a conexão e a interação com seu público. "Quanto mais local for a programação, maior a identificação com os telespectadores. Com isso contribuímos para o desenvolvimento do estado", diz o diretor geral da RPC TV, Luiz Cláudio Vieira.
Tanto quanto a programação, a área comercial também evoluiu. Há 30 anos na RPC TV, a gerente comercial, Rosaly Salazar, diz que hoje há um volume muito maior de informações para elaborar a estratégia de uso da televisão como mídia e para mensurar os resultados.
"Temos informações cada vez mais sofisticadas do espectador", diz. Outra grande mudança, conta a gerente, está no planejamento de mídia, feito hoje com muito mais antecedência. "Assim, o cliente garante que vai comprar exatamente o que precisa, o que julga interessante no seu plano de mídia."
História será contada na Revista RPC
Como parte das comemorações dos seus 50 anos, a RPC TV produziu dois programas "Casos e Causos" especiais, que reproduzem algumas histórias do início da televisão no Paraná.
"O diferencial desses episódios é a narração e abordagem jornalística, que são complementadas pela dramatização", explica o gerente de produção da RPC TV, José Nascimento. "Como na época tudo era ao vivo, encaramos o desafio de reproduzir as apresentações musicais, os comerciais e outras curiosidades do início da tevê no estado."
O primeiro episódio vai ao ar neste domingo, dia 31, e conta a história de Nagib Chede, desde o sonho de infância até o os desafios vividos para colocar a primeira tevê do Paraná no ar. O segundo episódio deve ir ao ar em 21 de novembro e vai mostrar três historinhas do início da televisão entre elas, a de um casal que queria devolver o aparelho de tevê por acreditar que o apresentador via o que se passava dentro da casa.As histórias são interligadas por uma participação especial do jornalista Sandro Dalpícolo, autor do livro Uma nova luz na sala Histórias da TV Paranaense. O "Casos e Causos" é exibido domingo à noite no programa de variedades Revista RPC.