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Uma pesquisa publicada neste final de semana aponta que, nos próximos anos, o Brasil não verá um fenômeno semelhante à expansão da classe média testemunhada nos dois primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando houve um avanço da classe D/E para a C.
Dessa vez, quem sairá na frente serão os estratos mais altos da sociedade, especialmente a classe A, de acordo com uma projeção da Tendências Consultoria divulgada pela Folha de São Paulo. Isso se deve a uma conjuntura econômica marcada por altas taxas de juros, baixo dinamismo econômico e limitações no orçamento público para políticas de redistribuição de renda.
Segundo a consultoria, a classe A experimentará o maior aumento na massa de renda real, com um crescimento médio de 3,9% ao ano no período de 2024 a 2028 – um movimento que já se fez sentir em 2023. Por outro lado, a classe D/E, composta pelos estratos mais baixos da população, terá um crescimento consideravelmente mais modesto, de apenas 1,5% ao ano, em média.
Entre elas, diz a Tendências, a classe C – grande beneficiada nos governos Lula 1 e 2 – terá um avanço de 2,5%, enquanto que a classe B progredirá 3,5%.
Embora a classe A seja relativamente pequena em termos de quantidade de domicílios, representando apenas 4% do total, ela detém uma fatia significativa da renda nacional, cerca de 37,2%. Por outro lado, a classe D/E, que representa quase metade das famílias brasileiras, recebe apenas 22,1% da renda total.
A massa de renda engloba diversos componentes, como rendimentos do trabalho, transferências de programas sociais como o Bolsa Família, benefícios previdenciários, além de outras fontes como juros e dividendos. O diferencial será justamente os ganhos de capital dos mais ricos, como empresários ou indivíduos com investimentos.
Embora haja expectativas de uma redução na taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,75% ao ano, espera-se que ela permaneça em níveis relativamente elevados. O último Relatório Focus do Banco Central, divulgado na semana passada, aponta uma previsão de 9% para o final deste ano.
Esta perspectiva se agravou recentemente com a possibilidade de os Estados Unidos, devido à alta inflação, manterem suas taxas de juros altas por mais tempo, o que poderia pressionar países emergentes como o Brasil a manterem suas próprias taxas elevadas para atrair investidores.
Atualmente, é possível obter um retorno de 6% ao ano acima da inflação com investimentos financeiros conservadores no Brasil. Em contraste, em 2023, os gastos com juros da dívida pública brasileira totalizaram R$ 718,3 bilhões, enquanto o Bolsa Família destinou apenas R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de lares.
No que diz respeito à classe D/E, a consultoria Tendências não espera correções significativas nos próximos anos nos programas sociais como o Bolsa Família ou no salário mínimo, dada a limitação fiscal que o governo Lula 3 enfrenta.
Essa realidade marca uma inversão do que foi observado entre 2003 e 2010, quando o Brasil se beneficiou de reformas estruturais no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um período de forte crescimento global e um “boom” nos preços das commodities exportadas pelo país.