A ascensão das classes C e D tem estimulado a formação de um novo perfil de consumidor. Levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que a evolução dos preços de serviços não prioritários no orçamento familiar, como espetáculos, salão de beleza e academia de ginástica, já tem alta acumulada de 9,24% em 12 meses até junho no Índice de Preços ao Consumidor (IPC-BR).
O recorte da FGV mostra que serviços que podem ser denominados de "supérfluos" uma novidade no orçamento da população de renda mais baixa são responsáveis pela maior parte do incremento dos preços no segmento. No IPC-BR, os preços dos serviços não comercializáveis, que incluem despesas com médicos e funerárias, por exemplo, acumulam alta de 8,5%, enquanto a inflação varejista média, pelo mesmo indicador, é de 6,4%.
Analistas alertam que a inflação dos supérfluos só tende a crescer, capitaneada por renda e crédito em alta. Para o economista e professor das faculdades Ibmec Felipe Lacerda, esta é uma consequência do aumento da renda e da maior criação de vagas formais. "Além dos salários, ainda temos a oferta de crédito, cuja demanda ainda está forte", diz.
"Tentação"
O economista da FGV André Braz selecionou 16 serviços pesquisados pelo IPC-BR que são mais atrelados à recreação, estética, ou terceirização de atividades domésticas. Estas atividades, diz, serão fonte constante de pressão na inflação do varejo, visto que a demanda não dá mostras de arrefecimento. "Os consumidores que eram de classes mais baixas estão incorporando em seu orçamento serviços aos quais antes não tinham acesso e que são uma tentação de consumo", comenta.
No detalhamento, é fácil constatar como a chamada "nova classe média" brasileira vem alimentando a inflação. Muitos preços de serviços já apresentam alta de dois dígitos em 12 meses, como alfaiate e costureira (10,98%), clube de recreação (10,75%), hotel (12,83%) e passagem aérea (13,71%). Também sobem com força gastos com salão de beleza (9,90%). Outros preços permanecem acima da inflação média do varejo no período de 12 meses, como show musical (7,24%), academia (8,42%) e lavagem de carros e lubrificação (7,31%). Braz lembra que estes serviços refletem aumento no poder aquisitivo. Poderiam ser substituídos por opções mais baratas ou simplesmente não constar do orçamento.
Um dos exemplos mais emblemáticos da demanda por este tipo de serviço é o mercado de beleza, que cresce 20% ao ano, segundo o presidente da Associação Brasileira de Salões de Beleza (ABSB), Kyrlei Boff, presidente da rede de salões Lady&Lord. "O que temos é um consumidor com mais dinheiro no bolso, combinado com um aumento na expectativa de vida do brasileiro, que agora pensa em se cuidar mais", descreve.
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