Já faz tempo que o Mercado Municipal de Curitiba deixou de ser aquele galpão perto da rodoferroviária onde se compra verduras, frutas e legumes. Mas o que tem mudado bastante nos últimos anos é o perfil do cliente do centro comercial mais tradicional da cidade. Quem entra hoje no mercado procura, além de hortifrutigranjeiros de qualidade, produtos mais sofisticados como vinhos, geléias, azeites, especiarias e embutidos, na maioria das vezes, importados. A tendência é confirmada por uma pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), que ouviu 2.583 consumidores. Apenas 32% deles saem do Municipal com o trivial (veja no quadro).
Atentos à mudança de hábitos dos freqüentadores e à mudança do público consumidor jovens empresários apostam em empórios e lojas sofisticadas que possam atrair a clientela mais exigente. Só neste ano, o mercado ganha cinco boxes com este perfil, três deles já inaugurados.
A administradora Fernanda Marim de Oliveira, de 28 anos, é a cara dessa nova geração nos boxes do mercadão. Em nada ela se parece aos tradicionais vendedores do municipal na sua maioria imigrantes que precisavam de um espaço para comercializar os seus produtos. Fernanda não tem, na família, tradição no comércio de alimentos. Escolheu o mercado para inaugurar seu empreendimento, a "Alimentari Empório e Delicatessen", depois de uma detalhada pesquisa de mercado. A cartilha de como começar um negócio foi aprendida na escola: Fernanda é formada em administração, fez pós-graduação e cursos para o pequeno empreendedor. "Não quero correr o risco de o negócio dar errado", diz.
A empresária segue à risca os mandamentos aprendidos na escola, tanto é que mudou o seu plano inicial depois de receber o resultado de uma das pesquisas que encomendou. "A idéia inicial era abrir um empório de bairro, na rua, mas detectamos que, apesar de gostar da idéia, o nosso público-alvo não deixaria de vir ao Mercado Municipal", diz. Para concretizar o sonho, Fernanda optou pela compra de dois boxes no mercado. Com isso teve que praticamente dobrar o investimento, R$ 200 mil em recursos próprios, com previsão de retorno em dois anos. Na loja, ela aposta em dois diferenciais: a disposição dos produtos à vista e ao alcance das mãos dos clientes, e a degustação aos sábados. "O cliente entra e tem oportunidade de provar o que não conhece", comenta.
Além de atender às expectativas dos consumidores do mercado conforme detectou a pesquisa, a maioria tem escolaridade alta, idade entre 30 e 54 anos e usa o carro para ir às compras as características da Alimentari estão alinhadas ao novo projeto da administração do mercado, que quer deixar o local cada vez mais limpo e com a denominação de alimento seguro. "O consumidor percebe a limpeza do nosso mercado, mas queremos atingir um patamar ainda mais elevado, resolvendo alguns problemas, como dos estoques", diz o gerente do Municipal, José Carlos Koneski. A reforma que levou a praça da alimentação para o piso superior, em 2002, foi um passo importante neste sentido, avalia o gerente.
Mas as mudanças não param por aí. Além do anexo de 3 mil metros para produtos orgânicos, com processo licitatório previsto para acontecer ainda este ano, o mercado quer se estabelecer como um atrativo turístico. E para isso a realização da pesquisa é apontada como fundamental. "Antes do estudo estimávamos público de 10 mil pessoas por semana, agora sabemos que são mais de 40 mil", completa o gerente.