Elas são grandes, mas muito discretas. Estão prestes a atingir uma cifra quase cabalística e chegar a R$ 1 bilhão em receita bruta anual, de acordo com o ranking das 500 maiores empresas do Sul do país, elaborado pela Revista Amanhã. Dez ascendentes ao clube do bilhão no Paraná (veja infográfico) vão se juntar a multinacionais como Renault e HSBC, estatais do porte de Copel e Sanepar, além de gigantes com DNA paranaense, como a Coamo. Mas mantêm um perfil conservador em seus modelos de gestão e têm quase nenhuma disposição em comentar sobre seus planos para o futuro diante da fase de desenvolvimento em que se encontram.
O marco no faturamento mostra o porte da empresa e seu nível de complexidade. Sozinho, não é indicador de saúde financeira. "Essa informação diz que ela conseguiu crescer, e isso traz benefícios, mas também muitos desafios", pondera o professor Henrique Machado Barros, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), de São Paulo. O tamanho pode ser um fator positivo na hora de negociar com clientes e fornecedores, atrair talentos, buscar financiamentos ou investimentos e atuar como um dos players do segmento.
Por outro lado, a visibilidade maior também exige mais transparência administrativa, relacionamento com público interno e externo, e gestão fiscal e tributária adequada para corresponder às investidas do poder público, um dos agentes que também passa a prestar mais atenção ao desempenho, seja pela relevância no cenário econômico ou pelo nível de recolhimento de impostos e riscos de sonegação.
Planejamento
Para o professor Carlos Alberto Ercolin, do ISAE/FGV, mais do que grandes ou pequenas, empresas devem ser classificadas por serem bem ou mal administradas. "E três perguntas são essenciais: para onde vou crescer, como eu faço para chegar lá e o que farei quando chegar", ensina. O planejamento estratégico é o ponto de partida, assim como a infraestrutura e as ferramentas de gestão estão no escopo da forma de crescimento.
A grande questão está em depois de atingir o objetivo, que pode ser o faturamento, a abrangência de mercado ou a excelência em serviços ou produtos. "Neste nível, a responsabilidade da empresa aumenta, há muito mais gente dependente dela. E a decisão para continuar crescendo, seja pela própria operação, por fusões ou aquisições, busca de fundos de investimentos ou abertura de capital, será determinante para o futuro", diz.
Crescimento exige conduta profissional e transparente
O modelo de gestão é bastante conhecido: o fundador ou os herdeiros ocupam cargos diretivos e a presidência da empresa, com tendência a centralizar decisões, mesmo nas companhias classificadas como maduras.
Também não é difícil que negócios familiares sejam confundidos com os da empresa. "É um perfil comum nas organizações do Paraná. E pode ser um empecilho no crescimento porque o mercado exige profissionalização, com transparência e definição clara de papéis", diz o consultor Claudio Camargo, sócio-líder do escritório da EY no Paraná.
Recursos humanos
A profissionalização da gestão aponta para o principal desafio de uma empresa em expansão: os recursos humanos. As pessoas certas devem ocupar os lugares certos e, muitas vezes, esse enquadramento pode ter que ser feito a partir da presidência. "O gestor tem que ter a humildade de reconhecer se ele é qualificado para levar o desenvolvimento da empresa adiante", observa o professor Carlos Alberto Ercolin, do ISAE/FGV.
A transparência é requisito fundamental para atrair investidores, em caso de abertura de capital ou venda de participação para fundos de investimentos. Nesse caso, o modelo de governança corporativa vai viabilizar a gestão profissional que o momento exige.
Treinamento
A qualificação da mão de obra e suas consequentes políticas de manutenção nos quadros funcionais também devem fazer parte da estratégia de crescimento.
A partir de um determinado patamar, a empresa muda o nível de negociação. Sai do mercado local para o internacional ou precisa de profissionais que identifiquem oportunidades para financiamentos e aplicações mais rentáveis, por exemplo.
"É um momento delicado de ajuste no quadro de colaboradores, mas necessário. As pessoas são os ativos mais valiosos da empresa", diz Ercolin.