Sede do Banco Central, em Brasília| Foto: Divulgação/Agência Brasil
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O Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou nesta quinta-feira (27) a transferência de R$ 325 bilhões do Banco Central para o caixa do Tesouro Nacional para a gestão da dívida pública. O dinheiro é fruto do lucro cambial registrado pela autoridade monetária no primeiro semestre deste ano com as suas reservas em dólares.

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"Tendo em vista as condições atuais de liquidez no mercado de dívida, houve a decisão do CMN para a transferência imediata de R$ 325 bilhões dessas reservas para o pagamento da DPMFi [dívida pública mobiliária interna]. Caso haja necessidade, o CMN avaliará, ainda neste exercício, a ampliação deste valor", diz o conselho em nota.

O valor ficou um pouco abaixo do que queria a equipe econômica. O Ministério da Economia contava com R$ 445 bilhões, já que os recursos disponíveis no caixa do Tesouro para honrar seus compromissos diminuíram em virtude da crise causada pelo novo coronavírus.

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O Banco Central resistiu a ideia de repassar quase todo o seu lucro cambial, pois preferiu deixar recursos em sua reserva de emergência para compensar eventuais prejuízos futuros com as operações cambiais, caso o dólar se desvalorize.

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, negou que o BC tema questionamento dos órgãos reguladores por causa da operação. Ele lembrou que lei do ano passado (13.820/2019) autoriza a transferência do lucro cambial do BC quando "severas restrições nas condições de liquidez” afetarem de forma significativa o refinanciamento da dívida interna do país.

O Tesouro Nacional confirmou que está em um situação de severa condição de liquidez, porque a pandemia obrigou o governo a emitir mais dívida pública para financiar programas emergenciais e porque a houve uma demanda do próprio mercado pelo encurtamento da dívida. Por isso, a secretaria pediu o repasse do lucro cambial registrado pela autoridade monetária com base no artigo quinto da lei 13.820/2019.

O CMN é formado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, pelo Secretário Especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues Júnior, e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Guedes é o presidente do conselho.

Dinheiro poderá ser usado apenas para dívida

O repasse do BC ao Tesouro, autorizado nesta quinta-feira pelo CMN, poderá ser usado unicamente para gestão da dívida pública. Será um dinheiro que vai para o caixa do Tesouro e que poderá ser usado caso o mercado comece a pressionar por juros e prêmios mais altos para compra de títulos.

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A pressão por juros mais altos é comum quando o “colchão de liquidez" da dívida está menor, ou seja, quando há pouco dinheiro no caixa. Segundo informou ao jornal Valor Econômico o subsecretário de dívida pública do Tesouro, José Franco de Morais, esse colchão caiu de seis meses para três meses após a pandemia, valor considerado perigoso.

O economista e consultor legislativo do Senado, Marcos Mendes, explicou à Gazeta do Povo que o reforço ao caixa será importante para o Tesouro conseguir refinanciar sua dívida a juros menores. "“Ele [o Tesouro] vai mostrar para o mercado financeiro que tem ‘balha na agulha’ caso queira rolar a dívida pública. O Tesouro não fica refém do mercado”, afirma Mendes.

Resultado 1º semestre do BC

No primeiro semestre de 2020, o BC registrou um ganho de R$ 478,5 bilhões com operações cambiais. Esse valor é resultado de um lucro de R$ 535,8 bilhões com a valorização das reservas internacionais, em virtude da disparada do dólar, menos R$ 57,3 bilhões de perdas com swaps cambiais.