A fragilidade das contas fiscais combinada com a "coerção" imposta pelo mercado financeiro vão manter por um longo período as taxas de juros brasileiras em patamares mais elevados, afirmou o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos conselheiros da presidente Dilma Rousseff sobre economia. Com uma visão ácida sobre os agentes financeiros, mas também crítica sobre a atuação do governo na condução da política econômica, Belluzzo não mede palavras para expressar seus sentimentos sobre os dois lados.
Ele acredita que os atuais problemas fiscais brasileiros devem-se a uma conjunção de fatores: falta de cuidado na política fiscal, letargia do empresariado brasileiro e acomodação do mercado com os altos rendimentos dos ativos. "Se olhar o jogo entre Banco Central e mercado, a expectativa é que nós vamos demorar sim para a Selic voltar para as mínimas históricas", afirmou. "Neste regime, se você não tem força suficiente, tem que ser cuidadoso com a política fiscal", emendou.
Diante da fragilização do superávit primário a economia que o governo faz para pagar juros da dívida e de uma aceleração da inflação, o BC iniciou um processo de aperto monetário que levou a taxa básica Selic de 7,25% para 9,5% ao ano. A expectativa é que a Selic volte a dois dígitos neste mês, quando o BC deverá elevar o juro em 0,50 ponto porcentual.
Em 2013, as contas públicas registraram crescente deterioração, culminando com o péssimo resultado primário em setembro que praticamente sepultou as chances de o governo cumprir a meta de superávit primário ajustada para o ano de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). "Esse ano o resultado do fiscal vai ser inferior do que estava prometido. Está muito difícil conseguir os 2,3 por cento mesmo com auxílio do bônus do pré-sal", disse Belluzzo.
Para ele, parte dos problemas fiscais tem origem nas próprias demandas do setor privado pela desoneração fiscal, que abalou as receitas do governo e não gerou o impulso esperado à atividade econômica. "Isso tudo faz parte do comportamento ambíguo dos agentes que pediram as desonerações e também ficaram cobrando por um primário de 3,1% do PIB. E aí fica difícil", afirmou Belluzzo.
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