O Brasil é, positivamente, um país interessante. Nele, as idéias não morrem de velhice. São congeladas. Retornam como Lázaros para entusiasmar, novamente, cidadãos que perderam a memória, mas não as esperanças. Continuam desesperados em busca de uma solução para nossos problemas. A situação é tão complexa e confusa que chega a produzir uma inversão temporal: se a solução que procuramos não está no futuro, por que não procurá-la no passado? Agora mesmo somos crucificados diuturnamente por fantásticos e incríveis discursos de nossos "presidenciáveis". Sem qualquer cerimônia, invadem nossas casas pela televisão analógica, o "quase último estado da arte das comunicações". Instruídos pelos "marqueteiros", conversam cuidadosamente. O objetivo é esconder do torturado e descuidado eleitor os graves problemas nacionais. Aqueles que verdadeiramente devem ser resolvidos, para a volta ao crescimento robusto com equilíbrio interno e externo e um pouco mais de justiça social, são esquecidos. Falam de tudo para não esclarecer nada...

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Um desses discursos – talvez o mais sincero e ingênuo – parece um ectoplasma materializado numa sessão espírita. Afirma que a solução dos problemas nacionais reside "num amplo movimento popular nascido da necessidade em que se acham os brasileiros de se emanciparem economicamente do jugo estrangeiro". Traduzido na linguagem do tempo em que cinema se chamava animatógrapho, propõe mais ou menos o seguinte:

1) "a suspensão definitiva do pagamento das dívidas imperialistas do Brasil";

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2) "a nacionalização imediata de todas as empresas imperialistas" e,

3) "a entrega das grandes propriedades aos camponeses trabalhadores rurais que as cultivam", que será executada por um "governo popular orientado somente pelos interesses do povo brasileiro".

É impossível saber como um programa tão "moderno", que inclui 1) não pagar a dívida externa do governo (que já não existe), 2) nacionalizar o que já foi privatizado (negando toda a evidência de aumento de produtividade) e 3) fazer a reforma agrária (que mal ou bem vendo sendo feita), pode ter chegado até nós. Comenta-se que o programa ressuscitado na tal sessão espírita foi o que acompanhou em vida o irrequieto jornalista Carlos Lacerda (o novo "guru" da ex-quase esquerda), que, quando ainda "brilhante" estudante comunista, o leu no Teatro João Caetano, em julho de 1935.

Era o programa da saudosa Aliança Nacional Libertadora!

dep.delfimnetto@camara.gov.br

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