No dia 15 deste mês a Folha de S. Paulo publicou uma excelente matéria do jornalista Ney Hayashi da Cruz, onde revelou as taxas de juros nominais de curto prazo de 107 países para empréstimos que, normalmente, atendem às necessidades de curto e médio prazo do setor privado. A fonte dos dados são o FMI e o Iedi e incluem: 1.º) as taxas de juros nominais referentes ao segundo trimestre de 2005 e 2.º) a taxa de inflação dos mesmos países para o ano julho 2004/junho 2005. A partir daí, o jornalista calculou as taxas de juros reais. Por exemplo: a taxa de juro nominal para empréstimos de curto prazo no setor empresarial brasileiro no segundo trimestre de 2005 era da ordem de 55,9% ao ano e a inflação brasileira no ano seguinte foi de 7,8%. Logo, a taxa de juro real equivalente para o tomador de um empréstimo foi de 47% ao ano. Sem nenhuma surpresa, o sr. Ney Hayashi confirmou que essa era a taxa real mais elevada do universo constituído pelos 107 países! Há sempre algumas limitações, que incluem a "qualidade" dos índices de preços e a "cobertura" das operações de empréstimo (em todos os lugares há setores "favorecidos" como a exportação, por exemplo).
A surpresa correu por conta da reação do "mercado" financeiro. No mesmo dia um sofisticado economista (reconhecido exatamente por sua "sofisticação"), procurou desqualificar os "cálculos" e do alto da sua competência neoclássica disparou: Essa é a taxa de juros ex-post; os economistas se interessam pela ex-ante! "Tout dun coup", como diriam os franceses, ele matou a um só tempo o articulista e o seu cálculo e exibiu seus tremendos conhecimentos! Sua ciência, entretanto, sustenta-se muito mal porque, pela teoria das "expectativas racionais" e dos "mercados perfeitos", às quais ele deve aferrar-se, as expectativas de inflação tendem a convergir para a inflação verdadeira, ou seja, a distribuição das diferenças entre elas tem média zero. No mesmo dia, na mesma edição da FSP (pág. B3), a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) põe logo as barbas de molho e denuncia parte da verdade: as altas taxas de juros são conseqüência do sistema tributário brasileiro que mantém a mão pesada sobre as operações financeiras e da política monetária que continua a utilizar o antiquado método de controlar a liquidez pelo antiquado instrumento do "depósito compulsório". Isso sem falar na absurda taxa Selic, hoje "ex-ante", na casa dos 12%, destinada a controlar um "excesso de demanda" que ainda não foi provado... Para enfrentar parte dessa situação parece boa a nova medida provisória que alongará o prazo de financiamento da dívida pública com venda de papéis de longo prazo para investidores estrangeiros, sem tributação, desde que acompanhada de competente simetria entre entrada de recursos e o uso simultâneo na compra da dívida externa, para não valorizar ainda mais o Real.
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