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Antônio Delfim Netto

Até quando?

O comportamento dos analistas econômicos revelado na semana passada é altamente preocupante. Bastou um pequeno aumento do IPCA, produzido por causas perfeitamente normais, para que um grande número deles levantasse a hipótese de que isso poderia impedir o Banco Central de reduzir a taxa Selic em 75 pontos de porcentagem na sua próxima reunião no mês de março. Dada à simbiose entre o que "pensa" o mercado e os seus eflúvios sobre o que "pensa" o Banco Central, a hipótese não pode ser descartada.

Será possível que a teoria econômica seja tão sinistra para que tais "cientistas" se comportem como se fosse uma tragédia a redução do desemprego? Ou que um aumento estacional ou acidental da taxa de inflação mensal (logo chegaremos à semanal e talvez à diária) seja um indicador seguro de "aumento da demanda global" e acenda a luz amarela para impedir a continuidade da redução da taxa de juro real? Aliás, é preciso dizer que os mesmos "cientistas" estão prevendo uma taxa Selic de 15% para dezembro de 2006 e uma taxa de inflação da ordem de 4,6% para 2007, o que nos deixaria com uma taxa de juro real de 10% no fim do ano, contra a de 12% hoje. Continuaremos no "topo do mundo" financeiro...

Nada disso é surpreendente, pois a tal ciência "prevê" um mísero crescimento do PIB de 3,5% para 2006, exatamente dentro do que eles supõem ser a taxa de máximo crescimento sem acelerar a taxa de inflação.

Essa pajelança transfigurada e vendida como "boa ciência" para a sociedade perplexa é justificada pela categórica afirmação "que não podemos crescer porque não temos poupança", proposição sem nenhum fundamento teórico ou empírico, como a história recente mostrou. O incesto entre o setor financeiro e o Banco Central, que se processa semana após semana através da interação dos seus agentes e é revelado no Relatório de Mercado (10/2/06) produzido pela Gerin, mostra que:

1. a "expectativa de inflação" no mercado nos próximos 12 meses é da ordem de 4,5%, praticamente a "meta" e,

2. a "expectativa de crescimento" é de 3,5%, exatamente o limite superior do crescimento, segundo os "cientistas".

Logo, não resta ao Banco Central (e aos seus acólitos "cientistas") outra atitude senão a da eterna vigilância entre as "expectativas" do mercado (claramente manipuláveis) e a "meta" (claramente arbitrária). Isto recomenda um comportamento altamente conservador que acima de tudo proteja o "mercado" de qualquer surpresa.

Enquanto isso, a curva teratológica de juros construída numa das "barbeiragens" do Banco Central no primeiro quadriênio da octaetéride fernandista, vai sobrevivendo. Produziu bons lucros aos agentes financeiros e, em compensação, sustenta uma taxa de juro real que impede o crescimento.

A única esperança nesse processo é a continuidade da ação da Secretaria do Tesouro Nacional trocando dívida de curto prazo pela de longo prazo e insistindo na substituição dos papéis selicados por indexados por índices de preços.

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