O afastamento de Castro, em Cuba, deixou espaço para uma discussão (ainda restrita) de como dar um pouco mais de racionalidade à economia do país, através do estabelecimento de incentivos que permitam aos cidadãos apropriarem-se de parte dos benefícios de sua iniciativa. No mesmo momento, Venezuela, Bolívia e Equador anunciam o caminho contrário.

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Depois de chegar ao poder em 1959 e introduzir o planejamento central, Castro tentou, no tétrico período 1966-70, criar o "novo homem", educando a classe urbana (como já haviam tentado Stalin e Mao) mandando-a cortar cana e estatizando até pequenos negócios. Com o fim da ajuda soviética, houve pequenas liberações e iniciou-se uma discussão que, ao transcender o círculo governamental, foi cruelmente interrompida em 1996. Agora a mesma discussão está discretamente voltando à tona.

Chávez, aparentemente, acredita que terá sucesso na criação do "homem novo" que se moverá pelo altruísmo (em lugar da "ganância do mercado") e, generosamente, obedecerá à sua liderança. Crê que vai ter êxito onde Stalin, Mao, Castro e outros tantos fracassaram. Algumas pessoas (e o "mercado" que adora volatilidade) temem que o presidente Lula possa entusiasmar-se com tal idéia, tão generosa quanto desastrosa. Para estes, recomendo um pequeno excerto do discurso de posse de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, no dia 19 de abril de 1975:

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"O momento da história que estamos vivendo apresenta-se, apesar dos desmentidos em contrário, como dos mais negros para os destinos individuais e coletivos do ser humano. De um lado vemos o homem esmagado pelo Estado, escravizado pela ideologia marxista, tolhido nos seus mais comezinhos ideais de liberdade, limitado em sua capacidade de pensar e se manifestar. E no reverso da situação, encontramos o homem escravizado pelo poder econômico, explorado por outros homens, privados da dignidade que o trabalho proporciona, tangidos pela febre de lucro, jungidos ao ritmo da produção, condicionados por leis bonitas mas inaplicáveis, equiparados às máquinas e ferramentas."

Lula nunca foi aprisionado no dogmático marxismo de "pé quebrado" que freqüentou nossas academias e encantou muitos de nossos "intelectuais"... Talvez registre alguma influência da solidariedade concreta de dom Cláudio Humes à greve de 1979, quando o "Partidão" e grandes políticos do MDB esquivaram-se de apoiá-la. Pelo discurso no lançamento do PAC, um dia pensará em substituir a Deus na criação do "homem novo"!

dep.delfimnetto@camara.gov.br