O resultado de qualquer corrida eleitoral é imprevisível. Ela nunca se dá num espaço euclidiano, sem rios, sem montanhas, sem buracos negros ou outros obstáculos mortais, mas sim numa geometria absolutamente estranha, onde tudo pode acontecer. Não importa a quantidade de pesquisa, a sua qualidade e a convergência dos resultados. Nada está garantido. Trata-se de um processo aleatório complexo, onde o vôo descuidado de uma borboleta no Rio Grande do Sul pode produzir uma enchente no Rio Grande do Norte.
Nada obstante, as cuidadosas análises estatísticas e políticas de Alexandre Marinis, da Assessoria Mosaico, revelam que existem algumas relações probabilísticas que sugerem em que condições o ganhador no primeiro turno pode ser levado à vitória no segundo. Mas não há nada certo: o resultado é tão previsível quanto a evolução do tempo para períodos maiores do que 30 dias...
O fato de Luiz Inácio Lula da Silva estar em primeiro lugar nas pesquisas, e que até agora todas parecem garantir-lhe a vitória já no primeiro turno, está longe de resolver a questão eleitoral. Estamos ainda no início da campanha televisiva que, por sua abrangência, contundência e virulência, pode ter o mesmo efeito do "delicado vôo da borboleta".
Há, entretanto, alguns fatos que favorecem o poder incumbente. O primeiro deles é a tragédia deixada como herança para a história do Brasil pela octaetéride fernandista: a reeleição sem desincompatibilização! Até as inexistentes esquinas de Brasília sabem que esta foi obtida por métodos tão condenáveis como aqueles que hoje horrorizam a Nação. A grande diferença é que hoje, pelo menos, estão sendo apurados pelas CPIs do Congresso Nacional. As mesmas que foram interditadas no passado...
O segundo, e não menos importante, é que Lula cumpriu boa parte das promessas da "Carta aos Brasileiros" que foi o programa com o qual se elegeu: 1) combate à pobreza e 2) política econômica sensata. O PT nunca entendeu (e Lula demorou a entender) que não foi o partido que elegeu o presidente mas que foi ele, Lula, que elegeu o partido! Acreditando que as promessas de Lula eram para "inglês ver", o PT ignorou a sua obstinação e atrapalhou a administração. O Brasil termina 2006 numa situação econômica muito superior à de 2002 e, principalmente, com os primeiros sinais críveis de redução da pobreza. Talvez seja isso que justifica os resultados das pesquisas.