É surpreendente ver como algumas soluções idealizadas para nossos problemas, por ex-quase brilhantes "intelectuais" e por entusiasmados colunistas que cuidam bissextamente de economia, conformam-se com propostas que costumam vir de notáveis economistas com a mais fina capacitação acadêmica. Olham para o que o governo paga de juros – em torno de 7% do PIB (o que é mesmo um absurdo) – e imaginam o que poderia ser feito com tais recursos: aumentar os investimentos públicos e ainda melhor, "ampliar os gastos sociais" (inclusive o aumento do funcionalismo!). Ou olham para o superávit primário (que não é superávit, mas despesa comprometida) exigido, aritmeticamente, para manter constante ou reduzir a relação Dívida Líquida/PIB e sugerem o que poderia ser feito com tal "sobra"...

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O tipo de raciocínio é exatamente igual ao comportamento do economista de uma piada aparentemente inventada por Paul Samuelson (o Nobel da minha geração). Um físico, um químico e um economista se encontram numa ilha deserta sem ter o que comer. Descobrem uma lata de salsichas e tentam determinar como abri-la. O físico diz "vamos bater com uma pedra e amassá-la". O químico sugere "vamos esquentá-la até explodir: comeremos as salsichas já cozidas". O economista, mais imaginoso, sentencia: "suponhamos que dispomos de um abridor de latas..."

Suponhamos que a carga tributária bruta seja de 26% (e não de 38% como é) e que a dívida líquida do setor público seja nula (e não 50% do PIB como é). Logo, não há problema: baixamos a taxa de juro real de 10% para 3% (como deveria ser, mas não é) e todos os nossos males se dissiparão. Poderemos fazer tudo ao mesmo tempo: resgatar a dívida social que acumulamos desde a repugnante escravidão, aumentar os investimentos públicos, fazer justiça com os aposentados... e, finalmente, construir o "Pays de Cocagne" onde todos teremos uma vida tranqüila e agradável.

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Mas como fazê-lo? Serão as soluções dessas questões apenas dependente de suficiente "vontade política", como acreditava o velho PT, até chegar no governo e ver "cair a ficha"? Como cortar a carga tributária sem cortar os gastos sociais (o que seria uma tragédia)? Como cortar a dívida do governo sem expropriar outra vez todos os brasileiros, pois eles é que são os portadores da dívida, não os bancos (como sugerem os gênios) que apenas a intermediam?

Não têm respostas! Resta, apenas, a hipótese genial: "suponhamos que essas questões não existam"...

dep.delfimnetto@camara.gov.br