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Antônio Delfim Netto

Teratologia cambial

A tabela ao lado revela alguns dados sobre as economias do Brasil, da Rússia, da Índia e da China (os famosos BRICs) que lançam sérias dúvidas sobre a teoria de que a "super" valorização do real é resultado inexorável do extraordinário ataque de produtividade que misteriosamente se abateu sobre nós. Supondo que não houvesse a arbitragem estimulada pelo enorme diferencial entre o juro real interno e externo, teria justificativa a "super" valorização do real que tanto mal está causando ao nosso sistema produtivo? Mesmo com uma análise pedestre e certamente primitiva como essa, o quadro revela que seria altamente improvável. O saldo em conta corrente do Brasil é em boa parte produto da pequena importação, justificada pela desprezível taxa de crescimento do nosso PIB. Nas mesmas condições atuais, com uma taxa de crescimento da ordem de 5% ou 6% ao ano e com a eliminação de alguns entraves não-tarifários à importação, o saldo provavelmente desapareceria.

A Rússia é um caso especial, porque suas exportações são dominadas por produtos energéticos, cujos preços e quantidades subiram recentemente por efeito do grande aumento da demanda mundial. A Índia, com um crescimento robusto, tem um déficit em conta corrente relativamente pequeno. Sua taxa de juro real impede a especulação com a moeda, de forma que ela parece ter uma taxa de câmbio real muito próxima do equilíbrio.

O caso chinês parece mesmo revelar uma "super" desvalorização. Com um crescimento extravagante de 9,3% ao ano, e com reservas de quase um trilhão de dólares, apresenta um superávit em conta corrente da ordem de US$ 160 bilhões, maior do que o total das exportações brasileiras de 2006. É interessante notar (para lembrança) que em 1984 China e Brasil exportavam, cada um, 22 bilhões de dólares. Os investimentos diretos nas Zonas Especiais de Exportação da China são muito significativos mas lá a especulação financeira não encontra espaço, nem na regulamentação nem na taxa de juro real que é praticada.

O caso teratológico é mesmo o brasileiro. A "super" valorização é produto de uma política monetária oportunística que usou a valorização cambial para reduzir a taxa de inflação à custa da agricultura e das exportações nacionais.

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