No artigo anterior, focalizei os números que mais me impressionam sobre a China. Neste, pretendo apresentar o outro lado da moeda o dos problemas.
No aludido artigo mencionei a perigosa escassez de água, o que põe em risco a agricultura e a vida dos cidadãos. Um outro obstáculo é a degradação do meio ambiente. O Banco Mundial diz que a China possui 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo e o combate a esse problema está custando cerca de US$ 170 bilhões por ano.
A migração massiva do campo para as cidades é outra questão grave. A ONU estima em 200 milhões os camponeses que irão para os centros urbanos ao longo desta década. O Banco de Desenvolvimento da Ásia vai mais longe, ao falar em 300 milhões. São pessoas que chegarão às cidades onde faltam moradias, saneamento e transporte.
Essa marcha em direção ao mundo urbano é propelida pelo forte desemprego nas zonas rurais. As estatísticas do trabalho da China não são firmes, mas as estimativas mais consistentes indicam a existência de quase 300 milhões de desempregados em todo o país, estando 200 milhões na zona rural.
A convulsão urbana só não eclodiu porque o país tem um regime com grande poder punitivo. A despeito disso, as coisas estão mudando. Cerca de 480 milhões de trabalhadores rurais almejam trabalhar nas indústrias nos próximos dez anos, onde o emprego é mais estável e os salários mais altos. Por mais acelerado que seja o crescimento econômico, será impossível acomodar tanta gente em tão pouco tempo. Mesmo porque os que estão nas cidades começam a se inquietar com as más condições de vida.
A análise de Rubens Barbosa deixa claro que as questões sociais nas fábricas, vilas e cidades estão cada vez mais críticas, forçando uma melhor distribuição de renda que, aliás, é pior do que a do Brasil (Rubens Barbosa, "A classe operária vai à luta", Estado, 24/1/2006).
Os dados de pobreza são impressionantes. O "Fórum sobre a Pobreza" realizado na semana passada em Pequim revelou existir cerca de 73 milhões de chineses com renda que mal dá para comprar roupa e comida. A ONU estima que a realidade é, o dobro disso ("China tem 200 milhões vivendo na miséria", Globo, 18/5/2006).
Ou seja, a China é um gigante vigoroso na área econômica, mas terá de investir muito para controlar os problemas do meio ambiente, da migração, do desemprego e das más condições de vida da maioria dos chineses. Será que, nessa hora, o país continuará crescendo a 10% ao ano?