Dois artigos chamaram minha atenção sobre a situação da agricultura brasileira, um reafirmando a competência e a grande capacidade de trabalho dos produtores brasileiros, e o outro prevendo a instalação de uma verdadeira conspiração social contra esses mesmos produtores.
O primeiro artigo registra que, depois de sofrer crises e mais crises em decorrência de um aumento espantoso das dívidas e problemas de comercialização, os agricultores souberam aproveitar de maneira inteligente uma conjugação de fatores que vai produzir em 2007 a maior safra agrícola de todos os tempos. São eles, a redução dos preços dos insumos, em especial, dos fertilizantes e defensivos agrícolas, em decorrência da apreciação do real, e a forte elevação dos preços de grãos no mercado internacional (meados de 2006 até o momento), em especial do milho, soja e trigo, por força do aumento da demanda e da esperança depositada nos biocombustíveis (Fernando Homem de Melo, "Início de um novo ciclo de crescimento agrícola?", Informações Fipe, março de 2007).
Os produtores deram um verdadeiro show de agilidade e competência. Respondendo prontamente aos estímulos, procuraram compensar o desastre do câmbio.
O segundo artigo também comemora a garra e a eficiência dos nossos agricultores que produzirão em 2007 uma safra de grãos colossal e recorde de 134 milhões de toneladas.
Tudo seria motivo de festa, não fora o que se antevê para o futuro. Esses mesmos produtores que não temem o trabalho e sabem produzir dentro dos melhores padrões de eficiência, simplesmente perderam o sossego: o crime e a violência invadiram o campo, materializados nos assaltos às fazendas, roubo de carga e de equipamento sem falar no desrespeito ao direito de propriedade que nossas autoridades, com raras exceções, já aceitam como rotina (Marcos Jank e André Pessoa, "Medindo a safra brasileira", Estado, 18/3/2007).
Se, de um lado, entramos em um novo ciclo econômico na agricultura brasileira, de outro, fechamos um ciclo de paz, quando os agricultores podiam trabalhar com tranqüilidade e concentrados nos problemas da produção e comercialização.
Os citados autores apontam ainda a terrível falta de mão-de-obra no campo em decorrência de trabalhadores que rejeitam o registro na carteira de trabalho por medo de perder a Bolsa-Família e outros benefícios.
Há alguma ligação entre o inusitado repúdio ao trabalho legal e a explosão do crime e da violência no campo? Deixo essa pergunta para meditação do prezado leitor.
Antônio Antônio Ermírio de Moraes é empresário. antonio.ermirio@antonioermirio.com.br.