O Brasil não consegue crescer e combater a inflação. Ou faz uma coisa, ou faz outra. Essa tem sido a nossa trajetória nos últimos dez anos. No ano passado, comemoramos o alcance da meta de inflação (5,1%), mas tivemos de amargar um crescimento ridículo (2,3%). Para 2006, igualmente, será mais fácil controlar a inflação do que acelerar o crescimento. Se o Brasil continuar nesse ritmo, adverte um estudo da CNI, o país levará cerca de cem anos para chegar à renda da Coréia do Sul!
O que impede os economistas de implementar modelos que resolvam os dois problemas ao mesmo tempo? Afinal, tantos países fizeram isso e com grande sucesso. Não é preciso sair da América Latina para recolher exemplos. O do Chile é o mais eloqüente.
Os próprios economistas, porém, estão cansados de alertar que, sem um severo controle do déficit público, não se chega a crescimento com preços estáveis. Nesse sentido, o país progrediu pouco. Nos últimos anos, houve até retrocesso. As despesas públicas explodiram e os investimentos minguaram.
Os dados são preocupantes. Em 2005, as despesas de custeio do governo federal chegaram a R$ 64 bilhões enquanto que os recursos alocados em investimentos ficaram em R$ 16 bilhões. Isso é um absurdo. O que o governo gastou na compra de material, pagamento de serviços de terceiros, cafezinhos e viagens foi quatro vezes mais do que investiu em rodovias, saneamento e energia elétrica ("Governo gasta coma máquina quatro vezes o que investe", Estado, 20/3/2006).
Apesar do discurso de austeridade econômica, os dados indicam que, só no ano passado, os gastos de custeio da máquina pública cresceram 29%. Assim não há bolso que agüenta para pagar tributos ao governo que, aliás, batem recordes de arrecadação todos os meses. Qualquer empresa que praticasse o expediente de gastar mais do que ganha, estaria quebrada há muito tempo.
Se há uma reforma a ser feita com a máxima urgência é a da área fiscal. Esta, a propósito, não exige mudança na Constituição Federal e nem confrontos desgastantes entre os parlamentares. É o tipo da reforma que, no jargão atual, depende da chamada "vontade política".
Um arrocho nas despesas e um aumento na eficiência nos gastos permitiriam reduzir drasticamente a relação entre a dívida pública e o PIB, que hoje está em torno de 52%. Um estudo da Fiesp indica que se essa relação passasse para 25% em 2015, a taxa de crescimento do PIB brasileiro saltaria dos atuais 2,3% para 7% naquele ano, o que representaria uma média anual de 5,7%.
Aí sim se poderia pensar em emprego e renda adequados para os que entram e os que estão no mercado de trabalho. Ademais, essa seria a taxa compatível com a abundância de recursos naturais que o Brasil dispõe e a capacidade de trabalho da nossa gente. Para os que gostam do jargão vou repetir: essa travessia depende só de vontade política. Criar empregos construtivos sim, empreguismo não.