Acompanhei com atenção as recentes decisões do Tribunal Superior Eleitoral referentes à próxima campanha eleitoral. Dentre as várias decisões tomadas, a que mais chamou minha atenção foi a que tornou os candidatos co-responsáveis pela prestação de contas na Justiça Eleitoral. Sim, porque durante toda a crise vivida no ano passado e metade deste, ficou patente que a atual prestação de contas é uma farsa. Vários depoentes nas Comissões Parlamentares de Inquérito admitiram a céu aberto a prática do caixa 2 e do desvio de recursos de campanha para bolsos particulares.
Há muito tempo, observo a conduta de certos candidatos que vêem nas campanhas uma oportunidade de ouro para reforçar seu patrimônio pessoal, independentemente do resultado da eleição. São os candidatos profissionais.
A decisão referida não foi gerada no Tribunal Superior Eleitoral. Ao contrário, ela se baseou na tal minirreforma eleitoral que muitos parlamentares aprovaram na esperança de que a nova lei não pegasse para outubro próximo. Para eles, o tiro saiu pela culatra. O TSE ratificou a vontade do Poder Legislativo e foi mais longe ao acabar com o uso de dinheiro vivo nas campanhas.
A propósito, há poucas semanas, as autoridades policiais flagraram um parlamentar americano que decidira guardar no "freezer" o dinheiro vivo recebido de maneira escusa. Foi uma vergonha! E o que dizer de nós onde os cabos eleitorais guardam o dinheiro na cueca?
O TSE proibiu também o uso de "showmícios" e "outdoors" assim como a deslavada distribuição de cacarecos que visam a iludir o eleitor desavisado. Bonés, camisetas, "botoms" são coisas dos tempos dos coronéis, quando o candidato doava a dentadura de cima, prometendo a de baixo mediante a garantia de voto por parte do pobre eleitor. Quando não era a dentadura era o sapato do pé esquerdo que só veria o do pé direito depois do voto comprovado.
O tempo passou e os brindes mudaram. Mas a desfaçatez é a mesma. A construção de uma boa democracia depende da exposição ao público de idéias claras a respeito dos problemas nacionais e das propostas de solução.
Democracia não se constrói com insultos e mentiras. E muito menos com promessas que iludem os eleitores na hora do voto, colocando-os no sofrimento depois da eleição.
Oxalá essas medidas baixadas pelo TSE sejam respeitadas e venham a ser intensificadas por uma mudança política de profundidade sobre a qual muito se fala e pouco se faz.