Viva! Trocaram de termômetro e o doente melhorou. Usando uma nova metodologia, o IBGE descobriu que, em 2006, crescemos 3,7% e não 2,9%. Muito bom, mas ainda continuamos a ocupar os últimos lugares na América Latina.
As boas notícias sempre vêm acompanhadas de maus presságios. Neste caso, tivemos dois.
O primeiro nos conclama para uma grande dose de cautela antes de comemorar a nova descoberta. Sim porque nesse maior PIB teve grande peso à incorporação da Cofins nos preços dos bens e serviços e o crescimento dos gastos do governo. Melhor seria se o resultado tivesse decorrido de um aumento efetivo da produção de bens do setor privado e do encolhimento da burocracia e das despesas públicas. Em 2006, o crescimento da indústria de transformação foi de apenas 1,6%.
O segundo nos informa que a taxa de investimentos produtivos do Brasil em 2006 (16,8%) foi bem menor do que os 20% ou 21% que se alardeava até então que, aliás, já era insuficiente para o tamanho e as necessidades do país.
A combinação dessas duas notícias mais preocupa do que alegram. Com investimentos reduzidos pouco se pode esperar em termos de um crescimento sustentado e de uma grande geração de empregos para os próximos anos.
Pior. Se o consumo continuar crescendo, o que é bom por força de injeções assistencialistas de dinheiro público no bolso dos consumidores, o que é ruim vamos nos defrontar com um dilema conhecido e já vivido pelo Brasil: a oferta será insuficiente para atender a demanda.
Todos sabem as conseqüências desse desequilíbrio: inflação, agiotagem, sonegação de produtos e outras práticas abomináveis das quais, a duras penas, conseguimos nos livrar nos últimos dez anos. Nesse caso, o Banco Central terá todos os motivos para manter os juros altos ou, quem sabe, até elevá-los, dando um sonoro adeus ao desejado crescimento.
Essa é a leitura que faço do novo termômetro. É como a criança raquítica não havia como engordar que, colocada em nova balança, alegra os pais por mostrar mais uns quilinhos. Porém, ao encontrar o médico, os pais ficam sabendo que a capacidade respiratória da criança está aquém de suas necessidades, o que comprometerá o seu crescimento futuro.
Seria bom se, em lugar de festejar a troca de termômetros, comemorássemos a realização efetiva (e não promessas) de investimentos produtivos. Essa notícia será bem melhor do que a revelada pelo novo termômetro.
Antônio Ermínio de Moraes é empresário.