Não é a primeira vez que combato o deslavado protecionismo das nações ricas contra as nações pobres. Num dos artigos publicados nesta coluna em 22/6/03, relatei o caso dos produtores franceses que, todas as tardes, lá pelas três e meia, abrem sua garrafa de vinho, cortam um pedaço de queijo, sentam-se na varanda de suas fazendas e apreciam suas terras e seu gado. Jantam às cinco e meia, ligam a televisão para ver o noticiário, e, finalmente, entregam-se ao "merecido descanso" após um "puxado" dia de trabalho.
Às sextas feiras, eles param de trabalhar às 11 horas. Às quartas, trabalham só de manhã, porque, à tarde, vão à reunião do seu sindicato, onde formulam os pedidos de ajuda governamental para si e demais fazendeiros. Tais agricultores têm de 50% a 85% da sua renda garantida por subsídios da União Européia.
O European Global Business de 9 de junho de 2003 publicou uma provocante fotomontagem com dezenas de vacas pastando no belíssimo gramado da Torre Eiffel com o seguinte título: "Na França, a vaca é sagrada".
O pior é que uma parte expressiva dos subsídios vai para fazendeiros que pouco produzem. E o governo não incentiva a produção. De fato, os franceses preferem abastecer o mercado interno com café, açúcar e suco importados do Brasil com enorme sobretaxa! Aliás, os americanos fazem o mesmo.
Os subsídios distorcem o comércio internacional, dão prêmios para quem não trabalha e castigam os que produzem com afinco e qualidade. O Brasil é uma das vítimas dessa guerra injusta. Nossa agricultura deu vários saltos de qualidade. A produtividade é alta para a maioria dos produtos. O trabalho é feito de sol a sol. Em muitos casos, colhemos duas safras por ano. E, no final, somos forçados a pagar o ócio dos milhões de produtores que cultivam a "dolce vità" no mundo desenvolvido.
Escrevo isso não por querer revidar nossa derrota para a França na Copa do Mundo, mas por ver que, mais uma vez, a União Européia provocou um impasse na reunião da OMC realizada em Genebra na semana passada.
Das promessas feitas em Doha em 2001, ninguém cedeu nada. A reunião foi suspensa um dia antes do previsto com a promessa de Pascal Lamy, diretor da OMC, retomá-la no fim deste mês para tentar um consenso.
Será que ele vai convencer os produtores franceses a trabalhar mais e depender menos das proteções do Estado? Vamos torcer para que isso aconteça.