É compreensível que a equipe econômica tenha dificuldade de propor algo melhor do que um déficit público de mais de R$ 170 bilhões neste ano e um projeto para fazer o ajuste fiscal em um prazo de três ou quatro anos. Mas ela precisa assegurar ao país que esse caminho é seguro e que não haverá desvios para ma is perto do precipício.
Quanto mais demorar a confirmação de que o ajuste no governo é para valer, o mercado continuará fazendo a correção através do corte de empregos. Os números do Caged de junho divulgados na última semana foram uma decepção. Havia a esperança entre analistas de que continuaria a tendência de desaceleração no fechamento de postos de trabalho. É verdade que as pouco mais de 90 mil demissões são menos ruins do que o visto em junho de 2015, mas houve piora em relação aos meses anteriores.
A frustração do Caged foi seguida na sexta-feira pelo número do desemprego da Pnad Contínua. O índice está em 11,3% e há gente falando que vai passar de 13% até o fim do ano. Cada ponto percentual significa um milhão de pessoas procurando emprego.
Está ocorrendo um ciclo em que as demissões no mercado formal intensificam a procura de empregos por pessoas que estavam fora do mercado de trabalho. A tendência de queda na participação de jovens no mercado foi revertida na crise – invertendo um fenômeno que muitos analistas apontavam como sadio por indicar que os jovens estavam estudando mais e atrasando a entrada no mundo do trabalho.
O mais intrigante do ajuste através do desemprego é que ele não está sendo suficiente para fazer a inflação convergir para a meta na velocidade esperada. O Banco Central praticamente descartou as chances de baixar os juros na reunião de setembro, frustrando outra expectativa. Vamos esperar um pouco mais pelo sinal do BC de que há segurança para a redução gradativa dos juros, com seus efeitos positivos sobre a produção.
Para aumentar a sensação de que a inflação está mais resistente do que deveria, há o fator cambial. O dólar caiu bastante nos últimos meses e deixou de ser um fator a pressionar os preços.
Precisamos entender melhor as razões da alta nos preços dos alimentos, que desde os tempos do ministro da Fazenda Guido Mantega era apontada como fator sazonal de pressão sobre a inflação. É possível que o problema esteja no despreparo da cadeia produtiva para lidar com variações climáticas e pragas. Inflação alta no meio de uma depressão é mais uma anomalia brasileira.