O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixou em aberto o que fará na sua próxima reunião, em outubro. Embora ainda queiram a inflação no centro da meta no fim do ano que vem, os membros do Copom sabem que manter a taxa de juros em 14,25% tem um custo econômico alto.
O que impediria uma queda na taxa ainda neste ano? O Copom depende agora de dois fatores: a confirmação de que a política fiscal ajudará na melhoria das expectativas, e uma melhora no cenário de curto prazo para a inflação.
A boa notícia é que há quatro meses a situação era pior. O BC parecia sozinho na tarefa de recuperar a confiança de agentes econômicos e via se deteriorarem as perspectivas para os juros futuros. Muita gente no mercado passou a perceber que a taxa básica não cairia tão cedo, mesmo no meio da pior recessão da história.
Agora, a tramitação da PEC do teto de gastos já traz um horizonte mais bem definido sobre o futuro das contas públicas. O projeto deve ser aprovado com mudanças, principalmente no cálculo das verbas para a saúde. O sinal no Congresso é que isso pode ser feito sem se comprometer a previsão total de despesa. Dessa forma, o país terminaria o ano com uma perspectiva de controlar o aumento da dívida pública em quatro ou cinco anos, o que certamente ajudará o BC a reduzir a Selic.
A inflação, a outra preocupação, depende menos do governo e é um fenômeno estranho para um período de recessão. A alta de preços foi muito além do impacto do reajuste da energia e dos combustíveis. Sofremos com a alta do dólar, condições climáticas ruins e alguma inércia inflacionária. Mesmo com todos esses fatores no ar, era de se esperar que o ritmo de queda da inflação fosse mais rápido, dada a recessão que cortou quase 8 pontos percentuais do PIB.
É difícil entender por que, por exemplo, os serviços continuam com uma elevação acima do teto da meta, ou a força com que se dá a variação dos preços dos alimentos. Parece haver um problema de fundo maior, que pode estar ligado à baixa produtividade geral da economia (principalmente em serviços, o que explica a resistência inflacionária) e baixa modernização financeira, que explica a falta de proteção do mercado de alimentos às oscilações climáticas.
Os números do IPCA-15 divulgados na última semana mostram que a desinflação continua e deram alguma esperança de que em outubro o BC terá condições de apertar o gatilho da redução dos juros. Será um teste sobre como os mercados passarão a projetar a inflação do ano que vem e poderá, no fim, ser um ciclo curto de queda. Mas será um indicador importante de que a economia brasileira está ganhando mais confiança.
Se essa possibilidade não se confirmar, o país terá de se debruçar sobre o comportamento da inflação e compreender melhor os fatores estruturais que estão atrasando sua queda.