Um dos erros de interpretação que surgiram após a surpresa da aprovação do Brexit foi o de que os britânicos não tinham muita ideia dos efeitos da saída do país da União Europeia. O fato de o resultado ter surpreendido quem acompanhava a campanha do Brexit não pode invalidar os votos – como deixou claro na última semana a nova primeira-ministra Theresa May. O processo será levado adiante.
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A maioria dos britânicos não ligou para as vantagens de participação no bloco europeu nem os riscos da saída, que não são poucos. Mesmo vivendo em um país mais rico do que há duas décadas, em grande medida por usufruir os benefícios de ser parte da UE. Contribui para a decisão popular a desintegração econômica da zona do euro – da qual o Reino Unido ficou fora, sem arrependimentos. E também pesa a imagem negativa da burocracia europeia. Mas talvez o aspecto crucial tenha sido o aumento na desigualdade que é vista em todo o mundo rico nas últimas três décadas, o período de ouro da globalização.
É bastante tentador dizer que a globalização elevou a desigualdade. Em alguns lugares, pode ser um fator que contribuiu para isso – cidades industriais, por exemplo, viram sumir atividades econômicas que hoje se concentram na Ásia. O problema, no entanto, está em como se distribuíram os frutos da globalização, o processo que pode ter fechado fábricas em Sheffield, mas também fez de Londres o maior centro financeiro europeu.
Em alta
O déficit de R$ 139 bilhões no ano que vem só será obtido com novas receitas. O governo quer vender o que puder para não ter de revisar a meta.
Em baixa
A empresa especializada em produtos de nutrição vai pagar US$ 200 para cessar um processo que a acusa de lesar seus vendedores.
Mais difícil é comprovar que a imigração tenha alguma culpa pela sensação de injustiça econômica. Em todo lugar os imigrantes são um fator que eleva o potencial de crescimento – no caso do Reino Unido, está provado que eles contribuem mais para a economia do que aproveitam os benefícios mantidos pelo país. Na campanha, tudo se misturou.
O Brexit é um sinal de que é preciso mais do que recorrer à aritmética do crescimento econômico para defender a globalização. A derrubada de barreiras contribui para a geração de riqueza, mas ela precisa ser melhor distribuída para não deixar para trás as pessoas que são prejudicadas pela competição externa. Ela também precisa ser acompanhada de um discurso que valorize a diversidade cultural e uma política que lide com os conflitos inerentes ao maior fluxo de pessoas.
A globalização é no geral positiva, mas não serve como resposta a todos os problemas de uma sociedade. O risco agora é que essa lacuna seja interpretada como a origem do mal-estar provocado pela desigualdade.
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