É como se no clima frio de Davos o governo brasileiro pudesse esconder o que fica à mostra neste verão de temperaturas nada amenas. A presidente Dilma Rousseff vendeu no Fórum Econômico Mundial aquela imagem que o povo dos mercados gosta: inflação sob controle, déficit público "entre os mais baixos do mundo", boa vontade com o investimento privado. Ah, e estádios prontos para a Copa. Nada disso é bem assim e, mesmo que fosse, não estaríamos prontos para a aposentadoria nos Alpes, onde ocorre anualmente o encontro do grosso do PIB mundial.
A começar pela macroeconomia, a meta de inflação só tem sido cumprida com artificialismos como o controle do preço da gasolina e o desconto subsidiado na conta de luz. A dívida bruta do setor público brasileira passou faz tempo os 60% do PIB e está entre as maiores dos países emergentes. No Chile, o vizinho mais perto de sair da renda média, é 13%. A boa vontade com o investimento privado é a mesma que o obriga a ser sócio da Petrobras no pré-sal, da Infraero nos aeroportos, ou que virou o setor elétrico de cabeça para baixo.
E mesmo que os estádios estivessem prontos no prazo, só valeria para poupar a presidente das explicações à Fifa. Copa não é sinônimo de desenvolvimento e seu impacto econômico é marginal em grande medida por causa dos investimentos em infraestrutura, necessários com ou sem jogo na cidade. De 2007, quando foi anunciada a Copa, para cá, não ficamos mais educados (vejam o resultado do Pisa, o teste de educação no qual o país estagnou), nem mais eficientes e só um pouco menos pobres. Não muito.
Duas rodas
Para os fãs da "nova economia da bike", um caso para ser estudado. A PBSC, empresa canadense que cuida dos sistemas de bike sharing em Nova York, Londres e Sydney, pediu falência. Ela não suportou os custos de manter os esquemas de empréstimo de bicicletas funcionando após enfrentar atrasos na instalação do sistema em cidades americanas.
Sem linha
Era para ser uma boa notícia para o setor elétrico: o linhão ligando a usina de Tucuruí ao Amapá está pronto e recebeu autorização para funcionar. O problema é que a Companhia de Eletricidade do Amapá não terminou uma subestação e a ligação da linha até seu mercado consumidor. Um exemplo de coordenação.
Não bastasse isso, o país inteiro paga a conta do atraso. Isso porque o Amapá é abastecido por termelétricas a óleo, cujo custo é subsidiado.
Franca e cara
A Zona Franca de Manaus custa ao país R$ 24 bilhões por ano em benefícios, segundo os economistas José Roberto Afonso e Érica Diniz, da Fundação Getulio Vargas. E há projeto no Congresso para que sua existência seja prorrogada até 2073.
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